A recente cobertura dos conflitos em Gaza pelos meios de comunicação tem trazido à tona narrativas preocupantes e parciais, defendendo a continuidade do conflito e minimizando a tragédia humanitária que se desenrola.
A fala de Jorge Pontual na GloboNews, em que alegou que “pedir um cessar-fogo agora é ajudar o Hamas” e que a única solução percebida é uma saída militar, parece abraçar a vingança como uma estratégia política viável e justificável. Tal postura acolhe um eco perturbador nas palavras do Ministro da Defesa de Israel que, de maneira imprópria, se refere a civis palestinos de uma maneira profundamente desumanizante: “animais humanos”.
“Comparar o dano causado pelos bombardeios a Gaza com a morte desses civis que foram chacinados pelo Hamas… não tem comparação”, alega Pontual, estabalecendo uma diferença entre vítimas do bem — as israelenses — e do mal — as palestinas. Quem está em Gaza merece o cemitério e o inferno.
Demétrio Magnoli, endossando essa visão, afirma que o apelo brasileiro por um cessar-fogo alinha-se aos interesses da Rússia, o que parece transformar a busca pela paz e pela preservação de vidas em um ato de tomada de partido em complexas dinâmicas geopolíticas. Essa perspectiva de advogar pela guerra, mesmo diante das inúmeras mortes e destruição desenfreada, é alarmante.
A Organização das Nações Unidas disse que ao menos 340 mil habitantes de Gaza tiveram que deixar as suas casas nos últimos dias, por causa de bombardeios lançados por Israel, após o ataque do Hamas no último sábado (7).
– Que vergonha! Este é o tipo de “jornalismo” (aspas!) que vc não vê em outros países ou grandes democracias: o “jornalismo” tacanho, rasteiro, subserviente, tendencioso, pequeno e nojento. Confira >>>pic.twitter.com/ATcg22RE5X
— Ivan (@ivan) October 14, 2023
Um balanço divulgado nesta manhã pelo governo palestino indica que 1.417 pessoas morreram em Gaza desde o início dos ataques de Israel. Entre elas estão 447 crianças e 248 mulheres.
Após tantos anos de conflito e tensão na região, a desolação que as palavras de Pontual causam é ainda mais aguda quando sugere que a destruição imposta por Israel sobre Gaza é justificável. Esta declaração abertamente apoia a continuação do massacre, criando um espaço midiático em que a vida de civis torna-se uma moeda de troca aceitável no tabuleiro internacional.
A música já nos alertava: “O fascismo parece deixar toda a gente ignorante e fascinada”. E é precisamente a essa fascinação com uma narrativa unilateral e beligerante que devemos resistir. A importância do cessar-fogo em Gaza é vital, não apenas para interromper a atual efusão de sangue, mas para criar um espaço onde a diplomacia e o diálogo possam emergir acima dos escombros e das perdas.
Guerra não é, e nunca deveria ser, o caminho percebido como único ou inevitável. A imprensa deveria se comprometer com uma cobertura que condenasse a violência e defendesse a vida e a dignidade humanas acima de tudo.
Quando se trata de advogar a morte em nome de um moralismo seletivo e assassino, o resultado é isso. Alimentam a extrema-direita e o genocídio autorizado e depois reclamam do monstro que criaram.
Demétrio Magnoli analisa os objetivos de Israel no norte de Gaza, com o pedido para que palestinos saiam da região em direção ao sul: “A invasão terrestre não vai começar num prazo definido e anunciado na televisão. Vai começar no momento em que o Exército de Israel considerar o… pic.twitter.com/RlCudJU083
— GloboNews (@GloboNews) October 14, 2023