O empreendedorismo tem sido destacado como um elemento vital na visão neoliberal, defendido por pilantras de extrema-direita como Pablo Marçal nas eleições para a prefeitura de São Paulo e líderes como Rishi Sunak.
O ex-premiê britânico, em discurso para seus pares no Partido Conservador, apresentou o empresário como aquele capaz de impulsionar a economia ao se libertar das amarras do Estado burocrático. No entanto, essa visão, que coloca o empreendedor como central para a dinamização econômica, é profundamente distorcida e limitada.
De acordo a revista britânica New Statesman, precisamos de um empreendedorismo florescente, mas enraizado em uma visão radicalmente diferente: democrática, pluralista, inclusiva e focada em atender às necessidades das pessoas, das comunidades e do meio ambiente. Nesse sentido, Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo, e o presidente Lula mencionam a importância de projetos voltados para o empreendedorismo, alinhados com essa proposta mais inclusiva.
O artigo da New Statesman explora como o empreendedorismo, em sua essência, é um processo coletivo e não apenas individual, como muitas vezes é retratado. O verdadeiro impulso para a inovação e criação de riqueza depende de um esforço social conjunto, que envolve trabalhadores comuns e instituições públicas. No entanto, na prática, o resultado desse processo muitas vezes leva à apropriação e concentração da riqueza gerada coletivamente.
Além disso, o texto argumenta que os instrumentos fundamentais do empreendedorismo – como crédito, propriedade, contratos e dinheiro – são criações públicas. Portanto, o empreendedorismo não acontece isolado no setor privado, mas é moldado pela política e pela lei.
O Estado desempenha um papel crucial nesse processo, inclusive como inovador, e deveria assegurar que o setor público colha uma parte justa dos frutos dessa inovação.
A revista também critica o fato de que vivemos em uma economia de rentistas, onde o sucesso muitas vezes depende mais da posse de ativos escassos do que da inovação e do risco. Exemplos disso incluem os lucros exorbitantes de bancos e empresas que controlaram ativos durante a pandemia de Covid-19, em vez de recompensar a criatividade empresarial.
É necessária uma transformação do empreendedorismo, com modelos de negócios mais democráticos, que valorizem a participação dos trabalhadores e das comunidades.
Reivindicar o empreendedorismo como uma força de invenção coletiva e democrática é vital para os progressistas. Como argumentou Jeremy Gilbert, professor de Teoria Cultural e Política, escritor, pesquisador e ativista baseado na Universidade de East London, os momentos de sucesso político histórico da esquerda ocorreram quando ela respondeu aos desafios, crises e desigualdades que o capitalismo gera com uma agenda modernizadora, capaz de estender a democracia e gerar formas mais profundas de liberdade.
Isso deve começar com a reimaginação de uma instituição fundamental do capitalismo – a empresa – e crescer para fora para garantir uma recuperação enraizada no empreendimento democrático.