A famosa empresa japonesa criadora de algo tão simpático e revolucionário como o Walkman pode estar vivendo seus dias de Petrobras e vendo-se no olho de um furacão.
Como tudo que está ruim pode piorar, uma ação coletiva de funcionários irá complicar ainda mais a vida, a imagem e o caixa da multinacional.
Tudo começou com a produção do filme “A Entrevista”, no qual dois americanos são convocados para assassinar o general Kim Jong-un, da Coréia do Norte. Trata-se de uma comédia e a estréia estava programada para 25 de dezembro.
Ao saber que dois jornalistas apatetados (como só dois personagens de comédias patetas americanas podem ser) irão para a Coréia do Norte entrevistar seu líder, a CIA entra em campo e contrata-os para que matem Kim Jong-un envenenado. Os tais ‘jornalistas’ são apresentadores de um programa de entrevistas ao estilo Danilo Gentili e o humor físico associado ao mau gosto a la Porky’s ou American Pie ditam o tom da película.
Em determinado momento, Kim Jong-un mostra um tanque de guerra presenteado a seu pai por Stalin, ao que um dos jornalistas corrige “pronunciamos Stallone”. Nunca saberemos se os diretores desses filmes estão fazendo uma crítica ao idiota médio americano ou se estão falando a mesma língua que seu público.
Em retaliação, hackers passaram a invadir os sistemas da Sony para causar o maior furdunço possível. Revelaram troca de emails comprometedores entre artistas, produtores e diretores, expuseram dados de funcionários e, claro, ameaças foram feitas contra salas de cinema que exibissem o filme. Até o 11 de setembro foi usado como lembrete do que estaria por vir caso ignorassem a mensagem. A Coréia do Norte alega não abrigar os ativistas mas afirma que não os condena.
Ainda que de início os executivos da Sony tenham dito que não cancelariam a distribuição do filme, ontem a empresa foi prudente e suspendeu por tempo indeterminado a estréia de “A Entrevista”. Sem muito senso de humor, as ameaças têm o tom terrorista assustador dos tempos atuais. “Recomendamos que vocês se mantenham distantes desses lugares nesse período”, afirma a mensagem. O ‘vocês’ somos nós e os ‘lugares’ são as salas de cinema em que o filme estivesse em cartaz.
Pelo sim, pelo não, quem iria? Dessa forma, o filme está na geladeira e o prejuízo desejado pelos hackers, supostamente alcançado. E não parou por aí. Os hackers atiraram no que viram mas acertaram também no que não viram.
Com o vazamento de dados pessoais, histórico médico, número do seguro social e até salário, os funcionários da Sony buscam uma ação coletiva contra a empresa. Querem indenização pelos danos causados graças ao que consideram falta de segurança nos sistemas da multi japonesa. Empresas são responsáveis pelo que vendem, pelo que fazem, pelo que dizem. E hoje as reclamações dos descontentes não se limitam a ligações ao SAC, ao 0800 ou algo que o valha. Ataques cibernéticos em prol de uma causa (seja ela justificável ou não) provocam um imenso desgaste na imagem da companhia e pode afundá-la com a velocidade do Titanic. Se o mundo parece estar se tornando mais chato com a ditadura do politicamente correto e do cerceamento ao humor, empresas devem, por sua vez, observar com imenso cuidado onde estão pisando.
Para sonhar, criar, projetar e colocar nas mãos do consumidor algo inovador como o Walkman, que eleve a empresa ao nível de visionária e “do bem” leva-se décadas. Para desmoronar basta uma piada.