Como as “Fan Fests” da Copa se tornaram a nova pedra na chuteira da Fifa

Atualizado em 10 de novembro de 2014 às 15:45
Fan Fest em Durban, durante a Copa na África do Sul
Fan Fest em Durban, durante a Copa na África do Sul

 

As Fan Fests são aquelas “festas populares”, padrão Fifa que devem ocorrer em todos as cidades sedes da Copa do Mundo, com telão, shows e promoções. Oficialmente, são o segundo maior evento da Copa, perdendo apenas para os jogos.

Mas a verdade é que as Fan Fests servem para dar mais visibilidade às marcas patrocinadoras. São 20 empresas com as quais a Fifa já tem compromissos. Estima-se um público de mais de 15 milhões nesses encontros. E o custo é perto de zero para a Fifa

Afinal, quem paga são as prefeituras. O custo de cada uma delas varia, mas a estimativa é que gire em torno de 20 milhões de reais, computando estrutura, segurança, cachê dos artistas, banheiro químico e por aí vai.

Diante disso, algumas prefeituras estão hesitando em fazer o evento e a de Recife já anunciou o cancelamento definitivo da festa. O diretor de marketing, Thierry Weil, não gostou nem um pouco. Está ameaçando um processo. “Nós vamos ter Fun Fests em todas as cidades-sede, sim”, afirmou.

Os gastos são um dos motivos para o receio do Recife. Outro é a experiência na Copa das Confederações, quando a Fan Fest foi um fracasso de público. E, talvez mais importante ainda, a capital de Pernambuco tem o São João, uma manifestação espontânea e importantíssima na tradição nordestina, que ocorre justamente em junho, durante a Copa.

As Fan Fests têm regras de comportamento rígidas. O público recebe objetos de torcida, tipo bexigas e balões, com os logos dos patrocinadores e faz clima de torcedor por 10 segundos para a Globo, outra interessada nos eventos, colocar no ar ao vivo.

É proibido se manifestar livremente sob o risco de ser reprimido pela segurança, como aconteceu na África do Sul em 2010. Lá, torcedores foram presos durante o mundial por se comportarem de maneira “exagerada” e até por cometerem “ambush marketing”, ou seja, marketing não autorizado, como, por exemplo, vestir uma camiseta de uma empresa concorrente.

Outras prefeituras também não estão engolindo essa exigência. Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Manaus estão ameaçando mudar o local escolhido para diminuir custos. São Paulo topou, desde que possa ter seus próprios patrocinadores, o que para a Fifa torna-se complicado.

O curioso é que esta é a primeira vez que ocorrem Fan Fests nestas proporções numa Copa do mundo. A primeira experiência foi em 2006, na Copa da Alemanha. Ocorreu apenas em Berlim, mas chegou a reunir um público de 1 milhão de pessoas, que puderam assistir aos jogos em telões, além de shows e exposições.

De qualquer maneira, a proposta das Fan Fests estava incluída no contrato da Copa. A cerca de 100 dias de começar o torneio, a ideia engripou e a Fifa ganhou mais um motivo para perder o sono.