O colunista de TV Tony Goes comparou Jair Bolsonaro a Paula von Sperling, a vilã que venceu o Big Brother Brasil. Em artigo publicado na Folha, ele afirmou:
“É impossível não comparar o resultado do BBB 19 com o da a última eleição presidencial. A mão do destino interveio nos dois casos, prejudicando o favorito só para lhe garantir a vitória final. E o Brasil saiu ainda mais dividido do que entrou”, disse.
No caso de Bolsonaro, foi a facada que possibilitou a ele o atestado médico para fugir dos debates sem precisar dizer que estava com medo.
Já Paula foi beneficiada pelos efeitos de uma bebedeira. Sua amiga, Hari, que teria chance de vencê-la, se descontrolou e a empurrou.
A vilã caiu, e seus seguidores, paulaminions, fizeram campanha na rede social pela eliminação da candidata que poderia lhe tirar a vitória.
Aconteceu.
Paula levou um bom dinheiro — 1,5 milhão de reais — e conseguiu defensores fanáticos, que são, como ela, preconceituosos e racistas.
Mas, fora do programa, a vida de Paula não será tão fácil como a de outros vencedores do BBB. Que marca associaria sua imagem à da mulher que despreza negros e ataca a religião de matriz africana?
Assim como Bolsonaro, Paula terá algum problema com a Justiça e se tornou aquela pessoa que desfaz uma roda ou que, ao entrar em um elevador, todos saem.
Na festa de encerramento do programa, seis participantes se recusaram a permanecer no local quando ela chegou. Saíram e foram comemorar em outro lugar.
Não parece a reação da comunidade acadêmica de Nova York ao anúncio de que Bolsonaro será homenageado em um dos templos da cultura e da ciência, o Museu de História Natural?
Paula poderá ficar em casa contando o dinheiro que ganhou, mas jamais será admirada. Terá seguidores, raivosos, mas não admiradores.
O que, para ela, talvez pouco importe. No mundo em que vive, o umbigo é o ponto mais longe que consegue enxergar. Talvez lhe sobre a chance de se filiar ao PSL e se candidatar a algum cargo.
Poderia compor um trio no parlamento com Joice Hasselmann e o delegado Valdir. Ou assumir uma cadeira no senado, para conversar com a senadora Soraya Thronicke sobre o aquecimento global ou as questões indígenas.
Paula é o reflexo de um tempo em que os imbecis foram empoderados.
Como o Brasil, o programa de televisão precisa mudar.