Como Doria trocou o ‘BolsoDoria’ por uma palavrinha mágica de 9 letras para tentar alcançar a presidência

Atualizado em 14 de abril de 2021 às 10:11
Na velha imprensa paulista o gestor é onipresente (Imagem: reprodução)

Se a tábua de salvação em 2018, quando venceu na bacia das almas a eleição para o governo de SP, foi o bordão ‘BolsoDoria’, a palavrinha mágica da vez tem nove letras e se chama ‘Coronavac’: é com ela que João Doria pretende trabalhar para enfrentar Bolsonaro e o campo progressista para conquistar a presidência em 2022.

Contam os cronistas da época que, menino, Rivelino, craque que brilhou no Corinthians, no Fluminense a com a amarelinha da Seleção, dormia com a bola de tão apaixonado pela redonda.

É o que se diz sobre Doria dentro do PSDB.

O gestor dorme com a embalagem da vacina chinesa como as senhoras de Santana dormem com o terço enrolado entre os dedos e Riva com sua eterna companheira.

A fixação é tanta que ele largou mão do Estado, terceirizando praticamente todas as outras áreas da administração. Transportes, finanças, educação, mobilidade, habitação popular, infraestrutura, nada disso tem mais importância na agenda do governador que o elixir chinês que promete salvar os brasileiros da peste.

Os militantes do PSDB em São Paulo estão sendo orientados a espalhar que, de 100 doses de imunizantes no país, 80 carregam o logo do Butantan.

Ou seja, se dependêssemos de Bolsonaro, o número de mortos pela covid seria quase o dobro do que temos hoje – uma média que já ultrapassou a casa dos 3 mil por dia.

Doria seria então o redentor dos fracos, e Bolsonaro a besta fera disposta a levá-los para a cova rasa.

A certeza do marqueteiro que virou político é tanta que até já definiu a composição da chapa para que o PSDB dê continuidade ao seu reinado de quase 50 anos no Estado: Rodrigo Garcia, seu atual vice, vai disputar o governo de SP e Geraldo Alckmin, que fracassou miseravelmente na disputa pela presidência em 2018, vai tentar o senado.

Com Coronavac e tudo, a caminhada de Doria não será fácil.

Legítimo representante da extrema-direita, terá de enfrentar a ira dos bolsonaristas e certamente não terá apoio do campo progressista que não confia e até desgosta dele.

De todo modo, não se pode considerar que é cachorro morto.

Doria venceu uma previa improvável no PSDB para se tornar candidato do partido e vencer a disputa pela prefeitura de São Paulo, em 2014, abandonou a cidade e, mesmo na bacia das almas, venceu a corrida pelo governo dois anos depois.

É carne de pescoço, sim, e leva uma vantagem em relação a muitos dos seus concorrentes: não tem limite para a canastrice – o que, para bom entendedor de política, é um ativo e tanto por ser essa uma virtude fundamental para quem disputa cargos majoritários.

Bolsonaro está aí para não me deixar mentir.