De Roma
A paisagem de Roma parece estar sendo tomada pelo Smart, aquele carrinho feioso e minúsculo. Chama a atenção vê-los estacionados perpendicularmente, num espaço mínimo, como se fossem motos.
O avanço do Smart é bom para o pedestre em Roma.
Porque se você for atropelado por um suas chances de sobrevivência são razoáveis.
Para quem conhece Zurique, onde o pedestre é tratado como uma divindade, Roma é o Hades. Os motoristas, se vêem você atravessando a rua, parecem se sentir desafiados. Em vez de brecar, aceleram.
Minha recomendação é que, nestas situações, você saia da frente.
Mesmo em vielas tão estreitas que mal cabe um carro médio os motoristas aceleram como se estivessem em Monza.
Mas, se no trânsito Roma é agressiva, no resto é o oposto. Roma tem uma alegria barulhenta, amiga, contagiante. As pessoas falam alto, mas em Roma isso não parece ser um defeito.
Os italianos olham para as mulheres descaradamente, e isso também não parece ser um defeito em Roma. É como se eles estivessem prestando uma homenagem. A mesma atitude em Paris ou em Londres levaria o sujeito ao ostracismo social. Em Roma, aja como um romano. Mas fora de Roma, não.
É por isso que é tão difícil entender o caso Berlusconi quando você está fora da Itália. Berlusconi é a quintessência da Itália. O amor descontrolado que ele dedica às mulheres é uma forma de elogio e de reverência. É como se ele estivesse dizendo que todo o dinheiro e todo o poder do mundo não valeriam nada se não trouxessem mulheres.
Quem não entende Berlusconi não entende a Itália.
Alguém já disse que a Itália é a terra que o feminismo esqueceu.
Não estou tão certo assim de que isso seja um problema.
Tenho a suspeita de que as mulheres eram mais felizes e menos atormentadas quando os homens as protegiam, antes que as feministas instalassem a era da competição desenfreada entre os sexos.
Minha suspeita cresce cada vez que vejo a expressão de uma mulher diante de uma conta que o homem paga num restaurante — sozinho.