A Globo está fazendo uma cobertura extensa sobre uma pessoa que, viva, jamais foi lembrada pela emissora.
Desafio você a encontrar registros de entrevistas, análises, mesas redondas — qualquer coisa — com Marielle Franco.
Ou uma mísera menção a seu trabalho por parte dos jornalistas que ali militam.
Não tem nada, por razões óbvias.
Marielle, vereadora do Psol, defendia o oposto do que o grupo defende.
Seu ativismo pelos negros pobres das favelas, denunciando o abuso policial cotidiano, as chacinas diárias, simplesmente nunca coube na grade.
Mais recentemente, ela tornou-se crítica ferrenha da intervenção militar e relatora de uma comissão para acompanhar o Exército.
De uma hora para outra, gente como Merval Pereira, com sua dicção claudicante, passa a falar em “direitos humanos”, duas palavras que Merval não usa juntas, provavelmente, desde os bancos da escola nos anos 40.
Gerson Camarotti, com seus bastidores inúteis sobre um governo corrupto e golpista, afirma que o assassinato é um “atentado à democracia”.
Eliane Cantanhêde decreta que “o Brasil despertou”.
E por aí vai.
A Globo é cúmplice desse estado de coisas, inventou a farsa interventora com Temer e tenta sequestrar um cadáver e uma ideia que lhe são absolutamente antagônicos.
Foi assim também nos protestos de 2013. No início eram “vândalos” atentando contra o “estado de direito”, “vagabundos” etc.
Assim que o vento soprou para a direita, com as milícias tipo MBL tomando conta, a Globo acertou a rota e abraçou a causa.
Deu no que deu.
Está fazendo a mesma coisa com uma mulher cuja execução covarde acordou as ruas.
Infelizmente, Marielle não está aqui para dizer a esses abutres: “Tirem as mãos de mim”.
Mas nós estamos e isso precisa ficar claro antes que seja tarde.