A última passeata pelo impeachment de Dilma ficou marcada pelo quórum baixo, pela declaração ridícula de Rachel Sheherazade de que “milhões” haviam saído às ruas, pela presença em São Paulo do senador Aloysio Nunes — e, sobretudo, pela defecção de Lobão, o grande “líder” da coisa.
O cantor chegou à Avenida Paulista, ponto de encontro da passeata, e deu de cara com um caminhão de som com pessoas pedindo a intervenção militar. Ficou irritado e deu marcha à ré, indignado com o que entendeu como não cumprimento do suposto combinado.
Lobão acha que essa reivindicação, especificamente, não cabe nos protestos. Olavo de Carvalho, seu guru, considera que, para tirar o PT, vale até o PCC. O deputado eleito Eduardo Bolsonaro, que levou uma pistola à manifestação passada, desta vez disse que tinha gente armada por ele (??). O Coronel Telhada desfilou e lembrou que “lugar de bandido é na cadeia, e não governando”.
Lobão acabou se encaminhando, mais tarde, para a praça da Sé, mas sua atitude provocou um tsunami entre seu povo escolhido. O ex-artista, eventualmente, deve estar se perguntando onde se meteu.
Sua surpresa ao ver malucos pedindo o retorno dos militares não tem lógica. Não existe almoço grátis. Não faz sentido apregoar o ódio, a obsessão, o golpismo, a histeria, a paranoia e ficar surpreso quando monstros aparecem.
Ainda vai ser objeto de estudo o que leva alguns milhares de brasileiros a tê-lo como chefe de seja lá que movimento seja. “Fale o que devemos fazer e nós faremos”, escreveu-lhe uma senhora no Twitter.
Abusando da Lei de Godwin, há um paralelo com os alemães sob o nazismo. Um bom livro sobre essa relação controversa é “Apoiando Hitler: Consentimento e coerção na Alemanha nazista”, do canadense Robert Gellately. Ele reforça a tese de que os alemães, ao contrário do que crê uma corrente, eram cúmplices do führer e não inocentes úteis.
“Hitler prometeu ‘limpar as ruas’, e a maioria das pessoas aprovou a medida. Algumas acreditavam de fato. Outras queriam proteger seu país e lutar como nacionalistas e patriotas”, disse o autor numa entrevista. “E provavelmente a maioria lutou para manter distantes os russos e os comunistas, que eram amplamente temidos e odiados no país”.
Não faz muito tempo, o neonazi Ernst Zündel lançou alguns panfletos. Num deles, chamado “O Hitler que Amamos e Por quê”, são elencados alguns motivos para curtir o velho Adolf. Um deles: “Nós o amamos porque ele falava de tal maneira que todos pudessem entender. Ele não simplificava demais os nossos problemas. Ele os esclarecia. Ele não deu ‘garantia’ de um mundo melhor. Ele nos pediu para lutar por isso”.
“Lobão tornou-se forte, querendo ele ou não é um dos pilares do movimento, visto por muitos como grande patriota”, escreveu um sujeito nas redes sociais. O roqueiro pode inventar alguma fuga do teatro que inventou, mas a malta que resolveu transforma-lo em liderança não lhe dará sossego.