No centro das atenções pelo esquema de vendas de joias oficiais vendidas nos Estados Unidos e preso por falsificar certificados de vacinação, Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) acertou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal partindo do quase esquecido “gabinete do ódio”. Esse núcleo do bolsonarismo era designado para criar e espalhar narrativas, mentiras, fake news e pânico moral entre a população visando aumentar a popularidade do ex-presidente.
O gabinete do ódio correspondia a um grupo ocupado por produzir e divulgar conteúdo desinformativo. Eles usavam blohs, sites e perfis nas redes sociais para criar o pânico entre a população, partindo de fake news, teorias conspiratórias e distorções de fatos. O objetivo era atacar opositores e jornalistas, tendo como alvo políticos de oposição, jornalistas críticos e instituições que fossem percebidas como adversárias do governo.
As redes sociais, especialmente o Twitter, Telegram e o WhatsApp, eram os principais canais de disseminação. O grupo utilizava técnicas de amplificação, como a criação de trending topics e o envio em massa de mensagens, para aumentar o alcance das narrativas.
Um dos líderes deste grupo era o “filho 02” do então presidente, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos). Ele foi apontado como um dos principais articuladores do gabinete do ódio, desempenhando a função de fomentar as mentiras e até por ser responsável por conduzir as redes sociais de seu pai. Acostumado com o protagonismo nos contos, neste domingo (10), lançou uma velha fake news grotesca sobre Guilherme Boulos (Psol), deputado federal que deve se candidatar à prefeitura de São Paulo em 2024.
“Estou curioso pra ver como reagirão os ‘isentões’ quando fortalecerem a invasão de apartamentos!”, comentou Carluxo no Twitter, o novo X, ao responder uma publicação do portal de extrema-direita revista Oeste. A matéria em questão falava da suposta falta de candidatos ao pleito na maior cidade do país nas próximas eleições. Seno que, em uma pesquisa da Datafolha, Boulos lidera as intenções de voto, com 32%, à frente de bolsonaristas como Ricardo Nunes (MDB), 24%, e Kim Kataguiri (União Brasil), 8%. No meio deles, Tabata Amaral (PSB) tem 11% das intenções de voto.
Outro personagem central do gabinete era Olavo de Carvalho, que se apresentava como filósofo e escritor, sendo autor do livro “O Mínimo Que Você Precisa Para Não Ser Um Idiota”. Olavo era o “mentor intelectual” do bolsonarismo e defendia pautas conservadoras e, segundo ele, anti-establishment.
Um dos principais divulgadores de fake news sobre vacinas e cuidados contra a Covid-19, Carvalho morreu justamente após ser diagnosticado pela doença. No entanto, não é possível confirmar se foi a pandemia que o matou, pois pessoas próximas se recusaram a divulgar a causa da morte.
Olavo também tinha grande influência sobre o governo de Jair Bolsonaro, pois contando com sua proximidade a Carlos, ele tinha seguidores assíduos como Damares Alves, ex-ministra dos Direitos Humanos e Filipe Martins, ex-assessor presidencial.
Outro ex-assessor de Bolsonaro, Tércio Arnaud Tomaz, era apontado como o operador chave do gabinete do ódio. O paraibano surgiu como celebridade na internet, criando páginas que exaltavam o “mito” nas redes sociais. Após eleito, o líder da extrema-direita resolveu contratá-lo para trabalhar com criação de memes e mentiras, mas pago, desta vez, pelo governo. Ele também era o mentor das estratégias de divulgação de fake news nas redes sociais.
Como resultado dessas mentiras, o gabinete do ódio contribuiu para a desconfiança generalizada em relação às instituições democráticas e à mídia tradicional. O cenário político brasileiro ficou ainda mais polarizado. Numa “escala final”, bolsonaristas ficaram acampados por meses ao recusarem aceitar o resultado das eleições presidenciais de 2022, culminando nos atos golpistas do 8 de janeiro.
Durante a pandemia de Covid-19, esse núcleo de fake news desempenhou um papel crucial na disseminação de teorias conspiratórias sobre a vacinação contra o coronavírus, o que resultou em parte da população desconfiando da eficácia e segurança das vacinas. O grupo também disseminou diversas teorias da conspiração, como a defesa do uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença, o que levou a decisões desastrosas de saúde pública.
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