A candidata à presidência da Rede Sustentabilidade e os manifestantes.
Marina Silva é candidata à presidência, mas ataca o que chama de campanha antecipada; acusa os políticos que apoiam os protestos de oportunistas, mas postou um vídeo dando seu apoio; é contra os partidos, mas está criando o dela.
Marina deu uma entrevista à Folha em que disse o seguinte: “O movimento é tão grande que as pessoas não têm a obrigação de saber que estamos nisso desde sempre. Não registrar que foi uma vitória seria injusto com os milhares e milhares da Rede. A gente nunca levou camisa, bandeira. Todo mundo da Rede que está aí legitimamente opera nessas manifestações, mas ela é multicêntrica”.
Não se tinha ouvido falar, até aqui, da participação da Rede desta maneira tão intensa. O Movimento Passe Livre, que pode ser creditado como propagador da faísca, é notoriamente ligado ao PSOL e ao PSTU. Viu-se de tudo na rua, mas ninguém da Rede se identificou. (Havia, isso sim, militantes da Rede no ato que reuniu milhares de evangélicos em Brasília; estavam coletando assinaturas para a criação do partido).
O nome de Marina apareceu entre os citados pelos manifestantes de São Paulo, na semana passada, ao lado do de Joaquim Barbosa. Segundo o Datafolha, JB foi mencionado por 30%; Marina, por 22%; Dilma, por 10%. Marina sabe disso. Ela guarda uma certa imagem de pureza, de diferente, que encanta os que estão “contra tudo”.
Na Folha, ao ser indagada sobre seu papel, saiu-se com uma parábola: “A água que cava seu leito faz isso se misturando com a terra. Eu sou mais um nessa mistura de água e terra”. Ela é contra lideranças carismáticas – mas diz que quer usar seu carisma “para convencer as pessoas que não dependam do carisma, que não acreditem que tem salvadores da pátria”.
A Rede não é um partido? Sim, mas é “um cavalo de Troia. Estamos antecipando o que seria essa nova institucionalidade política”.
A julgar pelo que Marina afirma, ela já sabia de tudo o que iria acontecer no Brasil nas últimas semanas. Ela já defendia candidaturas sem partido desde 1996 (Sarney também sugeriu isso há séculos, segundo o senador Cristovam Burque). Não há dúvida de que é necessária uma reforma política. Mas, dado o grau da alegada onisciência de MS, seria interessante ela explicar o que virá depois que for instaurada essa nova “institucionalidade política” e como chegar a ela.
Não se preocupe. Marina vai saber o que fazer daqui por diante, certamente. Afinal, a água do poço quando desce morro abaixo se mistura com a terra e o barro em ondas decimais e sobra o quê? Marina Silva, é claro, rumo ao Planalto.