Era uma tarde de julho de 2018 quando o delegado Waldir, atual líder do PSL em conflito com o clã Bolsonaro no partido, abria caminho para a passagem de Jair às dependências de um jornal de Goiânia. O local estava abarrotado de populares aguardando ansiosos a chegada do então candidato à presidência da República.
Waldir agia como um dos seguranças de Bolsonaro, escoltando-o até o estúdio da TV Digital do Diário da Manhã, onde seria entrevistado por Elvécio Cardoso.
Amigo de Batista Custódio, proprietário do jornal, delegado Waldir aproveitou enquanto Jair concedia a entrevista para cumprimentar colegas e pedir voto – era período de eleição e estavam em plena campanha.
Foi quando chegou à redação para rever velhos amigos.
Ao se dirigir à mesa de Fróes, o cartunista lhe mostrou uma charge que havia acabado de criar. Trazia os seguintes dizeres: “Jair ‘Messias’ Bolsonaro: será que esse é o salvador?”
Fróes é cartunista de renome em Goiás, conhecido pelas charges que cria para o Diário da Manhã.
Começou aos 17 anos e não parou mais.
Teve charges publicadas em O Pasquim.
Impressionado com o desenho, Waldir imediatamente tomou da mão do cartunista e levou para mostrar a Bolsonaro – bom marqueteiro, o capitão adorou a associação da palavra ‘Messias” com ‘Jesus’.
Todo mundo sabe em Goiânia que o marketing de campanha de Bolsonaro jogou pesado a partir daí para disseminar a ideia.
Porém, os ventos já não sopram tanto a favor do presidente.
Perdem força à medida que surgem escândalos envolvendo sua família, como as investigações contra o filho Flávio, envolvido no caso Queiroz, além dos ‘fantasmas’ do gabinete de Carlos, o Carluxo.
O outro filho, Eduardo, tornou-se conhecido pela insistência em querer assumir a Embaixada brasileira nos EUA, ainda que não tenha experiência nem capacidade para a função.
Ademais, podemos falar da mala com 39 quilos de cocaína encontrada dentro de um avião da FAB na Espanha durante uma viagem do presidente ao Japão.
Até onde se sabe, o deputado Waldir sempre se manteve leal ao presidente nesses 10 primeiros meses de governo, até que eclodiu a crise do laranjal do PSL e Bolsonaro decidiu deixar o partido, sem abrir mão de levar junto o recurso milionário do fundo eleitoral.
Errou lá atrás, quando, sob seu domínio, o PSL cometeu crime durante a campanha, e erra agora também, quando trama a saída tentando levar a chave do cofre.
Delegado Waldir foi só uma entre as inúmeras vítimas de Bolsonaro nesse trajeto.
O presidente só não imaginava que fosse encontrar pela frente alguém de coragem e disposição para enfrentá-lo.
Quem conhece Waldir sabe do que ele é capaz. Sabe também o papel que desempenhou na eleição de Bolsonaro e a disposição que tem para superar os desafios que terá pela manutenção do PSL unido e fiel aos seus princípios.
Froés, o grande cartunista, que acabou tendo seu desenho usado sem nenhum reconhecimento, mudou de opinião como centenas de milhares de brasileiros em relação a Bolsonaro.
Com exclusividade para o DCM, passou a tarde deste sábado, 18, trabalhando para reinterpretar a cena que ele mesmo consagrou 14 meses atrás (veja abaixo).
Diante de tantos problemas envolvendo Bolsonaro, cogita-se que o presidente esteja perdendo o título de ‘Messias’ para o de ‘Anticristo’.