Copiamos os europeus e pioramos.
Gosto de Sir Alex Ferguson, o técnico do Manchester United.
Aprecio o que vejo no campo, um técnico vitorioso há 25 anos num mesmo clube, uma coisa simplesmente inimaginável no instável e caótico mundo do futebol brasileiro. E me divirto com as coisas que ouço sobre os bastidores de Ferguson. Uma vez, num treino do Manchester, ele atirou uma chuteira em Beckham. Outra, depois de um jogo contra o Chelsea, o técnico adversário – na época o italiano Carlo Ancelotti – o procurou para uma confraternização. Ancelotti estava oferecendo, delicadamente, uma bebida para ele. Ferguson simplesmente ignorou o gesto do técnico rival: estava completamente concentrado numa televisão em que passavam corridas de cavalo – uma obsessão britânica, movida a apostas intermediadas por bookmakers, ou simplesmente bookies.
Mas eu falei de Ferguson para contrapô-lo ao que acontece nos times brasileiros em que as trocas de técnicos são frenéticas e, em geral, descerebradas. Por exemplo, houve sentido em o São Paulo passar por três técnicos diferentes num único campeonato? É presumível que o São Paulo tenha pagado multas para os treinadores despedidos. É também provável que qualquer técnico que negocie com o São Paulo jogue para cima o dinheiro da rescisão contrariada.
Um estudo feito na Alemanha, e publicado recentemente, mostrou que o desempenho dos times que mais trocam de técnicos é pior do que o daqueles que, como o United, seguem sob o mesmo comando. O mal que as trocas constantes fizeram ao futebol brasileiro é enorme: para evitar derrotas que fatalmente levarão a demissões, os técnicos passaram a privilegiar jogadores que destroem, e não os que criam.
Messi, se tivesse surgido num clube brasileiro, talvez não passasse das divisões inferiores por ser pequeno e não marcar ninguém.
Um pequeno passo para melhorar este cenário seria os clubes terem algum tipo de meta. Por exemplo: um time intermediário, como o Atlético Mineiro ou o Grêmio, define que sua expectativa é ficar entre a quinta e a décima posição. Um time do escalão inferior, como o Fortaleza ou o Bahia, estipula que seu objetivo é não cair. Qualquer colocação acima da zona da morte é lucro.
Metas realistas evitariam trocas inúteis, caras, desgastantes – e que levaram o futebol brasileiro nas últimas décadas a se desfigurar sob uma enxurrada de jogadores grossos que foram tirando o lugar na equipe de gente talentosa. Para ver o espírito do futebol brasileiro em campo você tem que assistir a jogos do Barcelona. É uma vergonha, uma humilhação para a terra de Pelé, Garrincha e Rivellino.
Houve um único técnico que foi contra a corrente na história recente do futebol brasileiro – Telê Santana. Mas a despeito de seus esforços épicos Telê foi batido pelos Zagallos, Parreiras e Dungas, o que é uma pena, uma imensa pena.
Teríamos nos reencontrado com a grandeza caso os cartolas tivessem a ousadia de contratar Guardiola?
A mim parece uma grande chance perdida.