Como o PSDB se tornou a nova UDN

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:45
Minilacerdas
Minilacerdas

E o PSDB virou, no ocaso de seus líderes históricos, a versão pós-moderna da UDN.

A UDN, em sua inglória, desprezível, abjeta existência, funcionou assim: perseguiu o poder e, na falta de votos, conspirou contra a democracia. Esteve por trás de dois golpes contra presidentes populares: Getúlio Vargas e João Goulart.

A UDN, como o PSDB hoje, representava o interesse do chamado 1%. Era a direita, em suma. Não a direita civilizada que você tem em países adiantados como a França e a Inglaterra, para não falar da Escandinávia, mas a direita predadora típica da América do Sul.

Como o PSDB, a UDN tinha a mídia na mão: Roberto Marinho, os Mesquitas e outros varões de Plutarco, aspas e pausa para rir.

Uma única vez a UDN chegou ao poder pelos votos. Indiretamente, na verdade. Foi em 1961, quando trouxe para seu lado, numa aliança de ocasião, um demagogo histriônico chamado Jânio Quadros.

Mas Jânio logo se cansou da tutela da UDN, e fez coisas que a desagradaram profundamente, como condecorar Che Guevara.

Lacerda, o Corvo, começou a atormentar Jânio, e este depois de sete meses renunciou. Terminava assim a breve estada da UDN no poder, pelas mãos de Jânio.

O sucessor de Jânio, João Goulart, o Jango, foi triturado pela UDN, que batera às portas dos quarteis para chamar os militares e recorrera à CIA para garantir o sucesso do golpe que planejava.

Os crimes de Jango: quando ministro do Trabalho de Getúlio, ele fez com que os empresários recorressem não à polícia para tratar de questões trabalhistas, mas que negociassem com os sindicatos.

Presidente, criou o 13.o salário, que o Globo, em manchete, disse que era uma calamidade nacional.

O golpe militar tramado pela UDN deu errado para ela. Os militares gostaram do poder. Lacerda acabaria cassado, e pateticamente foi atrás de Jango para uma aliança contra os generais que não lhe deram a presidência na bandeja, como ele queria.

A UDN foi dissolvida pelos militares, e repousa hoje na lata de lixo.

Meio século depois, o PSDB acabou por fazer as vezes dela.

O PSDB não tem ninguém com a oratória brilhante – embora nefasta – de Lacerda. Tem apenas minilacerdas, o mais abominável dos quais é Serra e o mais velho, FHC.

Como a UDN, o PSDB também não tem ninguém capaz de ganhar uma eleição presidencial. A saída é procurar algum novo Jânio.

Mas quem?

O nome mais óbvio é Joaquim Barbosa. Só que Joaquim Barbosa não é Jânio. Ou melhor: é Jânio em parte. Tem os defeitos de Jânio, como a megalomania e o apego fanático aos holofotes, mas não as virtudes políticas de Jânio.

Jânio falava a linguagem do povo, se vestia como o homem simples da rua, e cuidava até da caspa que o aproximava do cidadão simples. JB tem uma linguagem que ele próprio não parece entender. É empolado, confuso. E quer ser parecido, ao contrário de Jânio, não com o brasileiro médio, mas com a plutocracia. Até apartamento em Miami ele comprou.

Mas, no desespero, o PSDB parece ver em JB o novo Jânio. Rumores dão conta de que Aécio o estaria cortejando para uma chapa.

É uma aliança previsível: a direita busca os seus iguais.

Mas JB, repito, não é Jânio. No jogo das similitudes, o PSDB sim é a UDN.

E isso é uma tragédia não para o Brasil, porque as circunstâncias de hoje são bem diferentes das de 1954 e de 1954 – mas para o próprio PSDB.

Como a UDN, a posteridade o colocará no devido lixo reservado àqueles que defendem os interesses de uma rarefeita elite que levou o Brasil a ser um dos recordistas mundiais de desigualdade social.