As transportadoras brasileiras resolveram cruzar os braços e estão segurando no pátio seus caminhões e funcionários, tanto os de estrada quanto a chamada frota de coleta, que faz entregas e recolhe produtos dentro das cidades. Impedidos por lei de realizar um movimento de locaute, todas alegam estar tomando tal atitude – de manter seus caminhões parados – em nome da segurança dos próprios motoristas, que correriam risco de ter seus veículos depredados nos bloqueios que existem em algumas rodovias espalhadas pelo país.
Assim, sob o argumento de que alguns caminhoneiros autônomos estão bloqueando rodovias, as empresas transportadoras, responsáveis por cerca de 70% da carga transportada sobre rodas no país, resolveu parar de trabalhar, em um movimento de locaute contra o governo de Michel Temer e seu aumento desenfreado nos combustíveis.
Tal constatação se dá com uma visita ao terminal de Cargas Fernão Dias – o maior do país – localizado na zona norte de São Paulo. Lá, a reportagem do DCM conversou com funcionários e caminhoneiros de seis empresas de transporte. Todos narraram que o transporte de cargas está parado, por ordem dos donos das empresas. Assim, pode ser verdade que o movimento paradista tem participação de caminhoneiros autônomos, que realizam bloqueios em algumas rodovias brasileiras, mas também é verdade que empresários responsáveis pelo transporte de 70% das cargas em caminhões aderiram à paralisação, juntando um locaute a uma greve já existente.
O motorista Sílvio Luís Batista, contratado da Caiapó Transportes, por exemplo, foi trabalhar nesta quinta-feira (24), mas jamais deixou o pátio o galpão de sua empresa para transportar cargas. Por quê? Ele mesmo explica. “Desde segunda-feira o patrão mandou parar todas as entregas, ninguém sai daqui”, resume. Apesar da ordem ter vindo de cima, Batista diz ser favorável ao movimento. “Tinha que parar tudo até tirar todos esses políticos corruptos do poder. O governo dizer que vai baixar o preço do diesel por duas semanas não adianta de nada”, afirma o caminhoneiro.
Já na Transportadora Januária, o funcionário administrativo Jhonattan da Silva Marques explica que a empresa gostaria de estar trabalhando, mas não pode por causa dos bloqueios nas rodovias. Mas “Quando se tenta argumentar pacificamente com este governo, ninguém ouve. Com manifestação pacífica, não fazem nada. Agora, se para o abastecimento do país, aí eles podem ouvir”.
Marques conta que a transportadora está com dois caminhões parados em bloqueios na rodovia. Por isso, teria interrompido o fluxo de viagens com carga. A empresa também recolheu seus dois caminhões que fazem coletas dentro da cidade de São Paulo, onde não há nenhum tipo de bloqueio. “Mas é um movimento importante para os próprios motoristas terceirizados. Se continuar com tanto aumento, daqui a pouco, eles (caminhoneiros) terão que pagar para transportar nossas caras”, explica.
Enquanto isso, os caminhoneiros autônomos Marcio Moisés Pereira, Sandro de Liz e mais dois amigos tocavam violão e tomavam café enquanto esperavam serviço na tarde desta quinta. Assim como os seus colegas que trabalham para outras transportadoras, eles contam que não estão na estrada porque os empresários do setor estão segurando as viagens, mas que apoiam o movimento. “Nós estamos paralisados por causa dos bloqueios. Mas não acho que está errado, não”, afirma Marcio Pereira.
“Ninguém está reivindicando melhores salários ou aumento no valor do frete. A gente está reivindicando só a baixa do óleo diesel”, completa Sandro de Liz, citando exatamente os dois pontos que costumam ser a pauta mais comum dos caminhoneiros (melhores salários e pagamento mais justo do serviço de frete). As agendas de desoneração dos setor e queda no preço dos combustíveis costumam ser as pautas patronais de transportadoras em embates contra o governo.
Também estava lotado nesta quinta o galpão da transportadora Minuano. Nove veículos de estrada estavam estacionados nesta tarde, com os motoristas todos presentes. O encarregado da empresa no local, Gilmar Souza, explicou que não faz sentido colocar os veículos na estrada se serão barrados em bloqueios.
“Estamos com oito caminhões parados nas estradas, em bloqueios em postos de gasolina. Não vale a pena sair para estrada com esse tipo de risco. O motorista e a carga ficam muito vulneráveis em bloqueios”, explicou o representante da minuano. A reportagem, então, questionou porque a frota de pequenos caminhões, que fazem entrega e buscam produtos dentro do perímetro urbano de São Paulo, onde não há qualquer bloqueio, também estão paralisados. “Ah, uma questão de segurança”, respondeu o encarregado.
Finalmente, na RKM Transportes, o gerente operacional Valdir Rosa, que também está fora das estradas desde segunda-feira, dá uma explicação clara e enxuta para a adesão da transportadora ao movimento: “A gente tem que parar porque o governo não está se importando com nada, com ninguém”.