Como um diretor da Record escancarou o apoio a Bolsonaro. Por Vinícius Segalla

Atualizado em 18 de janeiro de 2019 às 19:55
Bolsonaro em “entrevista” na Record

Esta reportagem foi publicada em outubro de 2018 e está sendo republicada por motivos óbvios

POR VINÍCIUS SEGALLA

A reportagem do DCM que revelou a série de programas sobre a Venezuela que estava em construção na TV Record gerou manifestações de apoio a Jair Bolsonaro (PSL) por parte do diretor de Recursos Humanos da emissora, Márcio Santos.

Houve também reações dentro da empresa e nas redes sociais da emissora, pertencente ao mesmo grupo econômico que controla a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

Na semana passada, Márcio Santos, em “resposta” à reportagem do DCM, explicitou ao país em quem votará no próximo domingo, ostentando a hashtag #EleSim em seus perfis de internet, em alusão ao capitão da reserva.

Assim agindo, o diretor de RH conferiu ainda mais sustenção à reportagem que anunciava repudiar, na qual jornalistas da TV Record revelaram o partidarismo franco e impositor adotado pela direção da empresa em favor de um dos candidatos a presidente da República.

A lei brasileira veda expressamente a tomada de posição por parte de um canal de TV em favor de qualquer candidato a cargo eletivo, posto que a transmissão televisiva no país se faz mediante concessão pública.

Ainda assim, para Márcio Santos, que não aponta qualquer incorreção ou inverdade constante na reportagem do DCM, esta não passa de “choradeira desesperada do bloguesinho PETISTA”. 

Dias depois, o executivo achou por bem apagar sua postagem, que foi, no entanto, preservada pelo DCM para efeitos legais.

De resto, há pouca preocupação em esconder a ilicitude nos ambientes de trabalho da Record. Desde a publicação da reportagem, no último dia 19, o DCM recebeu novas acusações de favorecimento ao PSL tanto na TV como no portal R7, controlado pelo mesmo grupo empresarial.

No último domingo (21), em uma manifestação de apoio a Jair Bolsonaro na avenida Paulista, em São Paulo, a equipe de cobertura da Record que estava ali para noticiar o fato teve acesso ao teto do carro de som do evento, de maneira exclusiva, enquanto ficaram no chão os jornalistas dos outros veículos de comunicação.

Foram registrados, inclusive, casos de agressão a alguns repórteres que tiveram negado o acesso a qualquer área de imprensa.

A equipe de reportagem da Record colheu material para exibição no “Domingo Espetacular”, o programa jornalístico dominical do canal de TV. Rendeu uma reportagem de um minuto e 25 segundos.

No dia anterior ao evento em que subiu no trio a equipe da Record, manifestações contrárias a Bolsonaro tinham ocorrido em mais cidades e com mais pessoas do que os atos em favor do ex-capitão ocorridos no domingo. Ocuparam somente 18 segundos no telejornal.

Novamente, como se deu na primeira reportagem do DCM sobre o tema, que gerou reação tresloucada do referido diretor, os jornalistas da emissora que conversaram com a reportagem só o fizeram sob a condição de anonimato. Não há ambiente dentro da emissora para que se fale abertamente sobre o episódio.

“A reportagem que noticiou a ida de duas equipes do Jornal da Record para Roraima e Colômbia se espalhou feito fogo em palha na redação”, disse uma das fontes.

“No Facebook e no Instagram da TV Record e dos profissionais que já trabalhavam nas reportagens anunciadas, todas as fotos das viagens foram apagadas”, destaca a fonte, apontando para um fato constatável por qualquer um que tenha a curiosidade de visitar os referidos perfis.

Assim, o material, que vinha sendo preparado sob atmosfera de segredo pelo núcleo de investigações da equipe de jornalismo da Record, e não pelo time regular do Jornal da Record, até a conclusão desta reportagem, não havia ido ao ar.

É possível que, nas circunstâncias atuais, tenha deixado de ser conveniente. “Na avaliação da chefia, talvez o desgaste de exibir as reportagens agora não valha mais a pena”, disse uma fonte.