Como um evento de João Doria tornou-se o lançamento oficial da candidatura de Alckmin a presidente. Por José Cássio

Atualizado em 20 de fevereiro de 2016 às 16:54
Doria e Alckmin
Doria e Alckmin

 

Se havia alguma dúvida quanto à estratégia de Geraldo Alckmin de utilizar a pré-candidatura de João Doria no PSDB em São Paulo como plataforma para o lançamento de sua candidatura à presidência em 2018, agora não há mais.

O recado foi transmitido na manhã deste sábado, 20, em encontro de filiados com Dória na sede da Fecomercio, no bairro da Bela Vista.

Coube ao deputado federal Silvio Torres, homem de confiança do governador, anunciar a decisão.

“Estou aqui para trazer a confirmação: o candidato do governador Geraldo Alckmin é você, João. E mais: o seu sucesso, primeiro nas prévias, e depois ganhando a prefeitura, é decisivo para o nosso objetivo maior que é fazer de Geraldo Alckmin presidente da República em 2018”.

Torres contou que uma das estratégias do grupo é iniciar o monitoramento da conjuntura política nas 100 principais cidades do país. O desempenho de Doria é parte fundamental do projeto.

“Vamos imaginar um eleitor no Acre, que acompanha as notícias pela TV”, comentou Silvio Torres. “Ele precisa saber que em São Paulo o candidato do governador foi vitorioso nas previas do partido e que é competitivo para chegar à prefeitura. São Paulo é o primeiro passo da nossa caminhada”.

Representando o governador na reunião, o vice Márcio França foi ainda mais explicito. “Em terra de tucano, pomba não pia”, brincou o vice-governador, que é do PSB. “Mas estou aqui para dizer que o compromisso do nosso partido em 2016 é com o projeto Geraldo Alckmin presidente. Portanto, caso João Doria não vença as prévias nós não vamos apoiar o PSDB na eleição municipal”.

Também presente no encontro, o deputado estadual Barros Munhoz falou da sua forte ligação com Serra, Aloysio e Alberto Goldman, antes de explicar seu apoio à pré-candidatura de João Doria. “Hoje o nosso comandante chama-se Geraldo Alckmin”, disse ele. “Esse é o nosso projeto maior: reconquistar a presidência e recolocar o país nos trilhos”. Com relação ao concorrente de Geraldo no PSDB, o senador Aécio Neves, Munhoz disse ter “certeza de que o Aécio vai dar ao Geraldo em Minas a mesma vitória que nós demos a ele aqui em São Paulo”.

A reunião de João Doria com filiados do partido se transformou num ato político em favor do projeto Alckmin 2018. Vanderlei e o filho Cauê Macris, Célia Leão, Caio França, Julio Semeghini, o secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, diversos secretários, diretores de estatais, todos repetindo a mesma tese.

“O PSDB deve estar unido para conquistar o seu objetivo que é levar o Geraldo Alckmin à presidência da República”, discursou Edson Aparecido. “E você, João, é o nosso ponto de convergência nessa caminhada”.

O encontro que reuniu 500 militantes e presidentes de 23 dos 58 diretórios zonais contou com representantes de quatro partidos: PSB, DEM, Solidariedade e PPS.

Falando em nome do Solidariedade, o deputado federal João Dado assegurou o apoio de Paulinho da Força. “Em nome do Paulinho, estou aqui para anunciar o nosso apoio ao projeto Geraldo Alckmin presidente em 2018”, disse.

Entre os filiados que apoiam a pré-candidatura de João Doria, um chamou mais a atenção: Andrezinho, neto do ex-governador Franco Montoro. Ele disse esperar que Doria incentive políticas para a juventude caso se torne prefeito.

Doria usou Andrezinho e o avô para rebater as críticas de que nunca militou no partido. Num telão, apresentou uma reportagem sobre as Diretas e congelou uma imagem em que aparece bem atrás de Franco Montoro.

Após elogiar seus concorrentes Andrea Matarazzo e Ricardo Trípoli, que se inspira em três grandes líderes: Montoro, Mário Covas e Geraldo Alckmin. “É com a mesma humildade e perseverança deles que eu quero ganhar a eleição e governar ao lado do povo”, disse.

Sobre o projeto Geraldo 2018, fez uma comparação com o ex-presidente Lula. “O nosso candidato pode andar na rua, tomar café em padaria, falar com as pessoas”, ironizou.

Na quinta-feira, 25, Doria realiza seu último encontro com filiados no Sindicato dos Engenheiros, região central da cidade. Seu principal concorrente nas prévias, o vereador Andrea Matarazzo, faz encontro na segunda, 22, no Circulo Italiano, com a promessa de presença de Serra, FHC e Cia.

Como na eleição de 2008, quando metade do partido virou as costas para Geraldo (ficou em terceiro lugar) para apoiar Gilberto Kassab, o PSDB prossegue dividido e fazendo de São Paulo trampolim para o sonho da presidência da República.

A diferença agora é que, a despeito de desejos mais ou menos explícitos, a decisão não está mais nas mãos de meia dúzia de cardeais: desta vez são os filiados (quase 20 mil) é que vão decidir.

A sorte está lançada.