Os brasileiros gastaram um valor recorde em gastos no exterior. Nós devemos explorar essa vocação
O Banco Central divulgou os valores relativos aos gastos de brasileiros no exterior. De janeiro a outubro, foram 18,42 bilhões de dólares, 2,8% a mais do que no ano passado, nesse mesmo período. É um recorde. Alguns esnobes e pseudointelectuais acham o fim da picada passar o precioso tempo de uma viagem entrando e saindo de lojas. Mas é um pecado não explorar uma vocação. E uma das nossas vocações é esta: comprar. Nascemos para consumir. E qual é o problema?
Confesso que já me incluí entre aqueles que acham de qualidade inferior os seres humanos que apreciam shopping centers. Mudei de opinião após uma visita a Nova York com duas amigas (que se dizem parte de uma certa “Turma da Faxina”, não me pergunte o que é isso). Eu queria ir ao Guggenheim, ao MoMA, ver uma partida de softball no Central Park. Elas prometeram que me acompanhariam, desde que eu fosse com elas, como dizem os franceses, lamber vitrines. Subimos e descemos a Oitava Avenida. Elas sabiam o preço de um tênis Adidas no Brasil e lá. Entramos em vários magazines da Gap e da Levi’s para experimentar calças. Adquirimos um iPad na Apple. Descemos a Broadway até as pontas-de estoque perto da Canal Street. Provamos 140 casacos de couro da Century 21 para escolher um.
O sol brilhando lá fora e nós três jogando cabides no chão? Ninguém merecia. Quando eu disse que ia aos museus, nenhuma delas quis ir comigo. Tudo bem. E lá fui eu ao Central Park, em uma tarde gloriosa, ver os esquilinhos. Depois o MoMA, em suas novas instalações, mais moderno do que nunca, mais novaiorquino do que nunca, com seus Andy Warhols. Depois uma passada no Village, com suas lojinhas descoladas, pessoas descoladas, fachadas descoladas, animais domésticos descolados…
Até que me deu saudade da Turma da Faxina. Lembrei da vibração que existe em uma Macy’s, naquele monte de gente em busca do Santo Graal dos turistas: uma etiqueta de preço barata. Há mais vida real ali do que entre os corredores frios do Guggenheim. Viajar é interagir, certo? Onde você interage mais? Com uma instalação do Rauschenberg ou com um vendedor da Macy’s?
Nós, brasileiros, temos a chance de elevar o consumismo à categoria de arte. Basta ver a quantidade de shoppings e de pessoas que passam parte de sua vida neles para perceber que, em breve, conquistaremos o mundo. Não vai sobrar nada para americanos, franceses, alemães, argentinos. Às favas as galerias, os parques e tudo o que não possa ser trazido na bagagem. No fim da viagem, tive de comprar uma nova mala para acomodar minhas comprinhas. Ainda bem que as duas acharam uma para mim. O preço não era baixo. Mas para que serve o cartão de crédito, por Deus?