Publicado originalmente no site De Olho Nos Ruralistas
POR SARAH FERNANDES
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou na quinta-feira (09) que povos indígenas não precisam de água potável já que “se abastecem da água dos rios que estão na sua região”. Na declaração, que ganhou imediatas críticas de movimentos sociais do campo, o general tentava minimizar o mal-estar causado por Bolsonaro ao vetar dezesseis artigos do Projeto de Lei (PL) nº 1142/2020 que previa medidas urgentes de apoio aos indígenas e povos tradicionais na pandemia do novo coronavírus:
— Em relação à água potável, o indígena se abastece da água dos rios que estão na sua região. Se, porventura, algum rio daqueles for contaminado por atividade ilegal, notadamente garimpo, com o uso de mercúrio, então, se leva água para esses grupos.
O general, que é também presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, fez a declaração durante coletiva de imprensa.
A declaração parece muito distante da realidade brasileira, onde dezenas de indígenas morrem anualmente vítimas do consumo de água contaminada. Só no Acre, dezesseis crianças e um idoso das aldeias do Alto Rio Purus faleceram de um surto de diarreia provocado pelo consumo de água inapropriada entre janeiro e agosto do último ano. No Amazonas, outras seis crianças indígenas morreram em Atalaia do Norte, apenas entre dezembro de 2019 e janeiro deste ano.
A realidade se repete pelo menos em Rondônia, Pará, Roraima, Minas Gerais e Mato Grosso, estados com casos comprovados de adoecimento de indígenas pelo consumo de água contaminada por mercúrio usado em garimpos ou por agrotóxicos que descem cursos d’água. Por estarem em regiões de difícil acesso, os deslocamentos de indígenas até hospitais ou postos de saúde podem levar dias, o que torna o estado de saúde dessas populações historicamente mais debilitado.
POVO XIKRIN ADOECE POR INGESTÃO DE METAIS PESADOS NO PARÁ
Os indígenas da etnia Xikrin, uma das mais afetadas pela pandemia do novo coronavírus, sofrem também com a contaminação da água do Rio Cateté, que banha a região onde vivem, no estado do Pará. Uma série de análises da qualidade da água do rio realizadas por pesquisadores e pela Universidade Federal do Pará comprovaram a presença de chumbo, ferro, cobre, níquel, cadmio e cromo em quantidades acima das admitidas. Os indígenas utilizam o rio para tomar banho, cozinhar, pescar e hidratar alimentos tradicionais, como mandioca e batata-doce.
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