Conheça 8 polêmicas do longo currículo de controvérsias de Pazuello

Atualizado em 25 de maio de 2021 às 23:43

Publicado originalmente no Brasil de Fato

O general Eduardo Pazuello, em depoimento à CPI da Pandemia no Senado na quarta-feira.JEFFERSON RUDY / AGÊNCIA SENADO

Recentemente, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello prestou seu depoimento à CPI da Covid, no Senado Federal. Como já ocorreu em outros momentos de sua carreira política, os dois dias em que o general foi ouvido foram recheados de polêmicas.

Durante sua oitiva, ele tentou retirar a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a gestão do combate à pandemia de covid-19, colocando-o à margem das decisões do Ministério da Saúde, e trazendo os estados e municípios para o centro das tomadas de decisão.

Na sessão, o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), o senador Renan Calheiros (MDB-AL), requereu que uma equipe de checagem seja contratada pelo Senado para garantir que os depoentes se comprometam com a verdade.

“Tivemos uma primeira amostragem dessas contradições, inverdades e omissões. O depoente [Pazuello] em 14 oportunidades mentiu flagrantemente e ousou negar suas declarações. É a negação do negacionismo. Deve ser uma nova cepa. Negar tudo o que está posto, que a sociedade conhece, acompanha e se indigna, é tripudiar da CPI, imaginar que palavras são jogadas ao vento. Precisamos que se respeite essa comissão”, pediu Calheiros.

Não é a primeira vez que o nome de Pazuello é envolvido em polêmicas. A seguir, relembre alguns outros momentos controversos do ex-ministro e general da ativa do Exército Brasileiro.

Crise em Manaus

O militar é tido como um dos supostos responsáveis pela crise que deixou Manaus (AM) sem oxigênio suficiente para o tratamento de seus pacientes durante um dos auges da pandemia de coronavírus no país. Nos primeiros 54 dias de 2021, 5.288 pessoas morreram de Covid-19 no Amazonas, mais do que no ano passado inteiro.

O MPF (Ministério Público Federal) abriu investigação contra o ex-ministro, o secretário estadual de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo e outros funcionários do governo amazonense e do governo federal, por improbidade administrativa.

O objetivo é levantar “aspectos relacionados aos fatos que já são objeto de outros procedimentos em tramitação”, que tratam sobre a covid-19.

Entre os temas investigados estão os processos de aquisição de vacinas e de organização do plano de imunização, os valores direcionados à compra de medicamentos sem efeito contra o coronavírus e a baixa execução orçamentária para ações de controle da pandemia.

Grupo de extermínio

Reportagem do jornal Estado de S.Paulo, do dia 30 de maio de 1996, trouxe detalhes sobre a prisão do empresário Alberto Pazuello, irmão e sócio do ex-ministro, em sua casa, em Manaus. Ele foi acusado de participar, nos anos 90 de “A Firma”, um grupo de extermínio que atuava na região.

Com a participação de policiais e o apoio ou conivência de autoridades da segurança pública estadual, os primeiros esquadrões da morte surgiram durante a ditadura e foram precursores das milícias.

Alberto Pazuello foi para o presídio sob a acusação de porte de drogas e de armas, estupro, atentado violento ao pudor e cárcere privado. De acordo com a reportagem da época, era a segunda vez em que ele era preso.

Enriquecimento em Manaus

A família de Pazuello sempre esteve foi parte ativa dos ciclos de exploração dos recursos naturais da região Norte do país, do ciclo da borracha à ocupação promovida pela ditadura iniciada em 1964. O ex-ministro virou sócio da J.A. Leite Navegação, um dos expoentes da logística nos rios da região.

A empresa era do pai dele, Nissim Pazuello, que morreu em 2018. Em 1968, quando foi comprada, a companhia já era uma das mais fortes de atuação no setor, criada no século XIX durante o ciclo da borracha.

O ex-ministro tinha apenas 5 anos quando já virou sócio da empresa, em 1968, e era representado, assim como os irmãos, por Artur Soares Amorim, que tinha sido chefe de gabinete de Roberto Campos no Ministério do Planejamento, logo no início do governo Castelo Branco, em 1964.

Em 1952, o pai do ex-ministro participou da criação da Companhia de Petróleo da Amazônia (Copam) e, três anos depois, da Companhia de Navegação da Amazônia (Conave).

Soldado feito de cavalo

Em janeiro de 2005, o então tentente-coronel Pazuello obrigou um soldado sob seu comando a puxar uma carroça como um castigo por indisciplina. No episódio, o soldado foi atrelado ao equipamento no local destinado ao cavalo e um colega foi transportado em um banco. Na ocasião, todos os demais militares que serviam na unidade assistiram ao ato.

O episódio aconteceu no Rio de Janeiro, no Depósito Central de Munição do Exército, à época dirigido pelo então tenente-coronel. O caso gerou um Inquérito Policial Militar (105/05) para se apurar maus tratos e perseguição ao soldado castigado. A Procuradoria-geral do Ministério Público Militar, porém, inocentou o ex-ministro, considerando um “ato disciplinador regular” colocar o soldado para conduzir uma carroça.

Contratações suspeitas

No dia 17 de maio, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também pediu à CPI a quebra de sigilo telefônico,fiscal, bancário e telemático de Pazuello, Carlos Bolsonaro, Ernesto Araújo, “Markinho Show”, Fabio Wajngarten e Carlos Wizard. Para o congressista, eles estão envolvidos em suposto “Ministério Paralelo da Saúde”.

O Ministério da Saúde teria assinado 2 contratos sem licitação no valor total de R$ 28,9 milhões para reformas no Rio de Janeiro. Os acordos teriam sido anulados porque a AGU (Advocacia Geral da União) negou as duas dispensas de licitação e pediu investigação par apurar “indícios de conluio entre o os servidores e a empresa contratada”.

Também o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediu a quebra de sigilo telemático, telefônico, bancário e fiscal do ex-ministro para investigar contratações feitas pelo Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, sem licitação, de empresas para reformar prédios da pasta.

A pandemia teria sido usada como argumento para que as obras fossem tidas como urgentes. A Advocacia-Geral da União (AGU) já busca investigação para descobrir se houve algum tipo de conluio na contratação suspeita.

Gastos com propaganda

Durante sua gestão na Saúde, Pazuello gastou ao menos R$ 88 milhões em propagandas de covid-19 que ignoraram a prevenção, promoveram a falta de isolamento, colocaram a cloroquina como protagonista e exaltaram até o agronegócio.

Um comercial divulgado em julho e agosto, por exemplo, diz: “Em meio à mais grave crise da história, um setor foi fundamental para o País. Enquanto muitos tiveram que parar, o agro brasileiro continuou trabalhando”.

A mesma peça publicitária traz o depoimento de uma caminhoneira pedindo pelo retorno das atividades. “Vamos voltar, gente, vamos seguir em frente. Só que um cuidando do outro”, afirma.

Na campanha “Coronavírus, tratamento precoce”, houve uma tentativa de fazer com que a hashtag “#nãoespere” fosse utilizada pela população. Na propaganda, era dito que quanto mais cedo o tratamento começasse – com medicamentos sem eficácia comprovada -, maiores as chances de recuperação da pessoa.

Sem máscara

O ex-ministro também foi visto andando sem máscara no shopping Manauara, em Manaus, durante o mês de abril deste ano. O flagra foi feitas por uma fotógrafa profissional, que compartilhou as imagens nas redes sociais.

De acordo com o relato da fotógrafa, ao ser questionado sobre o uso do equipamento de segurança, Pazuello teria ironizado e perguntado: “Pois é, tem que comprar. Onde compra isso?”

Ato pró-Bolsonaro

O Exército Brasileiro decidiu abrir uma apuração disciplinar para apurar a participação do ex-ministro em um ato em favor do presidente no último domingo (23) no Rio de Janeiro. Bolsonaro e apoiadores motociclistas passaram pela cidade, e Pazuello participou de toda a ação.

Em certo momento, ele até subiu em um carro de som com o presidente e os dois usaram o local como uma espécie de palanque. No episódio, o general estava sem máscara. Quatro dias antes, ele tinha pedido desculpas na CPI da Covid por ter feito a mesma coisa no episódio do shopping em Manaus.

Edição: Vinicius Segalla