Destacou-se entre as imagens que viralizaram da depredação das sedes dos três poderes ocorrida no dia 8 de janeiro um vídeo na qual um homem vestido com uma camiseta que trazia a estampa do ex-presidente Jair Bolsonaro vandalizando um relógio que estava exposto no Palácio do Planalto.
De acordo com relatório preliminar apresentado pelo Iphan o relógio foi “fragmentado em toda sua extensão, apresentando fissuras, deformação e perdas.”
Veja as imagens da destruição:
Esse relógio escapou da guerra de sucessão espanhola, da guerra dos 7 anos, da guerra dos Pirineus, da guerra das laranjas, da guerra peninsular, da guerra da sexta e sétima coalizão, mas não sobreviveu a um traste bolsonarista. pic.twitter.com/gfaZwcDz0Q
— Marcelo Calero (@caleromarcelo) January 16, 2023
A peça, de acordo com o curador dos acervos da sede do Poder Executivo, Rogério Carvalho, foi trazida ao Brasil em 1808, por Dom João VI, sendo provavelmente um presente do rei da França, Luis XIV ou ainda uma peça adquirida pela corte portuguesa.
“Quando Dom João VI veio para o Brasil, trouxe o relógio para ornar o palácio e ficou ali nos palácios do Rio, no Palácio Laranjeiras, possivelmente, e quando JK veio, o relógio veio também”, conta o especialista ao Correio Braziliense.
Trata-se de uma relógio desenhado por André-Charles Boulle e fabricado pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot no final do século 17. Inclusive, trata-se de uma das duas peças feitas por Martinot ainda existentes, estando a outra exposta no Palácio de Versalhes. Em 2012 a peça recentemente vandalizada passou por uma sessão de restauração.
“A caixa é feita em casco de tartaruga e essa caixa foi jogada ao chão e ficou muito quebrada”, disse Carvalho. “O bronze que estava aderido à parte da tartaruga desconectou-se, a escultura que encimava o relógio foi partida, o vidro foi quebrado, a caixa com a assinatura do Martinot foi desconectada e a máquina foi atirada ao chão com tanta força que um ponteiro sumiu.”
De acordo com a coluna Splash, do UOL, há peças do relógio guardadas e catalogadas que podem vir a possibilitar uma possível restauração.
Quem foi Balthazar Martinot?
Balthazar Martinot viveu entre 1636 e 1714. Filho de um importante relojoeiro que atuou na corte francesa, seguiu com sucesso a profissão de seu pai, tendo vendido peças suas para o Rei de Sião e para Constantinopla. Alguns de seus relógios podem ser encontrados Seus relógios ainda são significativos e podem ser encontrados em algumas das coleções mais importantes do mundo, como o Victoria and Albert Museum em Londres, o Museu do Louvre, em Paris.
Uma peça de Martinot foi vendida recentemente por 4.800 euros no prestigiado antiquário “Antiques Delaval”: