A pesquisa “A Cara da Democracia”, conduzida pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), revela similaridades entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em pautas conservadoras, com destaque para a segurança pública. Com informações do Globo.
A questão da punição aos militares envolvidos nos eventos de 8 de janeiro, entretanto, é o tema que mais divide esses dois grupos eleitorais. As semelhanças nas opiniões sobre a maioria dos temas sugerem que a polarização política não influencia significativamente a visão dos brasileiros sobre questões de costumes.
O pesquisador João Féres, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj, compilou os dados a partir das respostas dos entrevistados sobre 14 temas abordados na pesquisa. As respostas foram categorizadas como “contra” ou “a favor”.
Conforme Féres, os dados indicam que tanto lulistas quanto bolsonaristas tendem a compartilhar um nível semelhante de conservadorismo. As pautas em que os eleitores de Bolsonaro são mais conservadores também são aquelas onde os eleitores de Lula demonstram uma tendência semelhante.
Quatro perguntas avaliaram a adesão a visões punitivistas ou armamentistas em questões relacionadas à segurança e à ordem pública. Em duas delas, houve maior concordância entre lulistas e bolsonaristas. Sobre a proibição da “saidinha” de presos, 56% dos eleitores de Bolsonaro e 50% dos eleitores de Lula concordaram com a restrição.
Neste ano, o Congresso aprovou uma lei que proibiu a saída temporária de presos em regime semiaberto. Anteriormente, a legislação permitia que esses presos deixassem a cadeia temporariamente para visitar a família em ocasiões específicas, desde que cumprissem certos requisitos de comportamento. O presidente Lula vetou a lei, mas os parlamentares derrubaram o veto.
Em relação à proibição da venda de armas de fogo, 63% dos bolsonaristas e 57% dos lulistas se declararam contrários. Uma pergunta similar foi feita no referendo do desarmamento de 2005, quando o “não” também obteve mais de 60% dos votos.
No caso da maioridade penal e da pena de morte, lulistas e bolsonaristas mostraram menor alinhamento, mas ainda apresentaram certa convergência. Mais de dois terços dos eleitores de Lula, por exemplo, apoiam a redução da idade de encarceramento. Já a pena de morte, embora inconstitucional no Brasil, teve o apoio de mais da metade dos bolsonaristas e de quatro em cada dez eleitores de Lula.
“As pessoas que votam no Lula e no Bolsonaro, no geral, não são tão diferentes assim. Bolsonaro atrai os eleitores mais conservadores e militaristas, além dos antipetistas”, avalia Feres. “Por outro lado, minhas pesquisas qualitativas indicam que, entre os ‘bolsonaristas moderados’, muitos veem Bolsonaro como alguém perseguido e ao mesmo tempo culpado pelas acusações que enfrenta”.
Visão sobre militares
O militarismo tende a afastar as posições dos dois grupos, segundo a pesquisa. Entre os eleitores de Bolsonaro, 58% se opõem a punições para os militares envolvidos nos atos de 8 de janeiro, quando as sedes dos três Poderes foram invadidas e depredadas, com indícios de inação das forças de segurança. Entre os lulistas, apenas 29% se opõem às punições, e mais da metade defendem a necessidade de punição.
Também há um certo descompasso em relação à militarização de escolas públicas, uma pauta que conta com o apoio de 83% dos eleitores de Bolsonaro, em comparação com 61% dos eleitores de Lula — um percentual que, embora alto, mostra uma diferença maior do que em outros temas.
Além da área militar, a defesa dos direitos da população LGBTQIAP+ também causa maior descompasso entre lulistas e bolsonaristas. Entre os eleitores de Bolsonaro, 65% são contrários ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, contra 43% entre os eleitores de Lula. A adoção de crianças por casais gays gera resultados semelhantes: 57% dos bolsonaristas são contrários, posição seguida por 36% dos lulistas.
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