O prefeito João Doria divulgou em seu canal no youtube um vídeo com depoimentos de ex-moradores de rua e um convite para as pessoas participarem desse “trabalho novo”, sem explicar direito o que seria isso.
Ouvir Doria falar de sua preocupação com a tragédia social dos moradores de rua soa tão verdadeiro quanto Donald Trump manifestar preocupação com os mexicanos pobres.
Não dá.
Ambos, por gestos e palavras, construíram um muro entre o mundo em que vivem e a realidade dos menos favorecidos.
A esse propósito, está circulando pelas redes sociais outro recorte de jornal com a repercussão da proposta que Doria fez quando era presidente da Embratur: transformar a seca do Nordeste em atração turística.
É uma reportagem do jornal O Globo, com título “Proposta de fazer da seca atração turística não agrada aos nordestinos”, e um editorial que sugere a Doria outros projetos turísticos “inovadores”.
“Seria bom programar roteiros alternativos (sempre procurando pensar com a cabeça do Presidente da Embratur). Teríamos excursões anuais às enchentes no Sul (onde o turista talvez comprasse galochas típicas), caminhadas noturnas na Baixada Fluminense para presenciar o ritual de ‘desova”, visita ao Manicômio do Juqueri, caçadas de jacarés no Pantanal e assim por diante – até o bom senso voltar”, escreve o jornal O Globo.
O ministro do Interior da época, Joaquim Francisco Cavalcante, seu colega no governo, achou tão exótica a proposta de Doria que comentou: “Prefiro imaginar que essas declarações não existiram”.
O ex-governador de Pernambuco, Roberto Magalhães, também foi sarcástico. Afirmou acreditar que Doria anunciou seu projeto “com a melhor das intenções”, mas advertiu:
— Turismo não se faz com o sofrimento, porque a seca é, na realidade, um drama causado pela conjunção da pobreza da natureza com a do homem sertanejo. Ela é uma vergonha nacional porque jamais se fez dela uma prioridade.
Tasso Jereissati, que era governador do Ceará, saiu em socorro do jovem presidente da Embratur. Achava que a fala de Doria foi mal interpretada. “Ele não foi feliz”, disse.
Na ocasião, Doria tentava se fortalecer para tentar disputar a prefeitura de São Paulo, na eleição de 1988.
Nas colunas de jornal, falava-se que ele se filiaria ao PFL.
Poderia ser o candidato a prefeito ou a vice, na hipótese de Sílvio Santos encabeçar a chapa.
A desastrada fala de Doria foi uma das razões que o levaram a adiar seu sonho.
Foi preciso que uma crise política de grandes proporções, quase trinta anos depois, o deixasse em condições de vencer a disputa pela prefeitura, com o marketing de gestor eficiente e não político.
Nada mais falso.
Tão falso quanto ouvi-lo dizer sobre o “trabalho novo” (algo a ver com o Partido Novo do seu secretário de assistência social?) em favor dos miseráveis da cidade de São Paulo.