Por Luis Felipe Miguel
Há mais de 500 anos, Maquiavel enunciou o drama eterno da política: às vezes é preciso praticar o mal para alcançar o bem.
Mas o pensamento de Maquiavel não é simplista. Ele sabe que os meios contaminam os fins. Se estamos praticando o mal, como poderemos ter certeza de que vamos alcançar o bem?
O segundo turno das eleições brasileiras tem colocado estas questões com força.
A campanha de Lula tem recuado em muitos pontos importantes, sobretudo os referentes à laicidade do Estado, e deixado de lado temas substantivos para tratar de canibalismo e coisas do gênero.
Apoiadores de Lula, como o deputado André Janones e a jornalista Patrícia Lélis, têm ido além e lançado mão de práticas bolsonaristas: insinuações maldosas, ataques pessoais, denúncias sem maior fundamento ou mesmo apoiadas em evidências falsificadas. Afirmam que é necessário para criar engajamento e colocar a extrema-direita na defensiva.
Com frequência, o recurso é a exposição da vida privada, o que reforça o moralismo convencional e a homofobia. A justificativa é que estão expondo a hipocrisia dos pretensos defensores da família patriarcal, da heteronormatividade e dos papéis convencionais de gênero.
Na esquerda, não falta quem os critique, seja por julgar que é contraproducente, seja por critérios éticos.
A resposta é que contra Bolsonaro vale tudo. “Quem tá com pena que leve um bolsominion pra casa e cuide”, tuitou Patrícia Lélis.
De fato, manter a integridade e permitir que Bolsonaro se reeleja não oferece consolo nenhum.
Mas reduzir a política à opção entre táticas manipulatórias, bolsonaristas, opostas é abrir mão do projeto emancipatório da esquerda.
Como Maquiavel já apontava, lá no começo do século XVI: na política, não há soluções fáceis. Vamos ter que fazer escolhas e viver para sempre com as consequências delas.