Talvez pela simples e excelsa vontade de falar o que acha que tem de ser falado, talvez por um certo fastio, talvez para servir como contrapeso ao direitismo paranoico do concorrente Danilo Gentili — seja lá por que razão, Jô Soares tornou-se uma voz política sensata na Globo.
Nesta semana, durante um debate com suas “meninas”, o apresentador defendeu a aprovação da LDO. “Torcer para que essa lei não seja aprovada é torcer contra o Brasil. Não tô falando que tá certo. Mas de repente a Dilma ser atingida por uma lei dessas é uma catástrofe para o Brasil”, disse.
Criticou o surto de impeachment. Após Lilian Witte Fibe mencionar a “roubalheira”, perguntou se ela não achava que era “uma generalização quando se fala em governo corrupto”.
Esgrimiu com uma Ana Maria Tahan exaltadíssima, que comparou o governo Dilma ao de Collor, insistindo na tese de “má gestão”. Fez a distinção entre as duas épocas.
Não foi a primeira vez. Recentemente, Jô partiu para cima da idiotia que vê bolivarianismo debaixo da cama. Chamou de absurda a possibilidade de virarmos uma Venezuela ou uma Cuba e elogiou Evo Morales, lembrando que devia ser difícil para a minoria branca aceitar um índio no governo. “A gente está se socializando da forma mais democrática”, disse. Praticamente uma heresia.
Jô está fugindo do script não apenas no seu programa, diante de suas convidadas e de seu público, mas sobretudo em sua emissora — a terra dos jabores, dos alexandres garcias e dos waacks, cada vez mais apocalípticos por causa, entre outras coisas, da possibilidade de o governo encampar a regulamentação da mídia.
Dado o pensamento único estabelecido, Jô Soares está sobrando, no melhor sentido. A prosseguir nessa toada, ninguém terá o direito de se surpreender se ele, repentinamente, for aposentado.
Sabe como é. Essas coisas acontecem. De qualquer modo: taca-le pau!