Cotado para substituir Mandetta, Osmar Terra deveria ser cobaia da própria tese. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de abril de 2020 às 11:25

Publicado originalmente no blog do autor

Bolsonaro pode ter blefado todo tempo ao mandar espalhar que Osmar Terra iria ocupar o lugar de Mandetta. Terra é um animador, a caixa de ressonância dos Bolsonaros, mas talvez nunca tenha sido levado a sério.

Terra é o Nostradamus de Bolsonaro, um Nostradamus sem sutilezas e que erra todas. Mas a grande questão diante dele é outra.

Se um dia Terra virar ministro, os repórteres finalmente poderão fazer a pergunta que nunca fizeram ao médico defensor do que chamam de contágio de manada.

Terra é contra a quarentena e entende que a pandemia deveria andar sozinha, como se fosse uma pandemia neoliberal, sem freios e controles, para contaminar o que tivesse pela frente. Porque assim as defesas seriam logo acionadas.

Osmar Terra não concorda com os que dizem que haveria uma tragédia incontrolável. Pelo que diz sua intuição, porque não tem como provar, Terra imagina que em pouco tempo tudo estaria resolvido. É só liberar todo mundo.

Pois a pergunta que nunca foi feita é essa. Se Terra defende o contágio em manada como estratégia racional de combate à pandemia, ele próprio, que parece ter boa saúde, se ofereceria à testagem da sua tese?

Sei que vão dizer, e ele mesmo pode dizer, que se trata de um idoso. Mas a ideia do contágio generalizado de Terra não evitaria que idosos fossem infectados. A não ser que todos os idosos do Brasil fossem levados para um hotel, como Crivella tentou fazer com os velhinhos favelados no Rio.

Terra se submeteria, em manada, ao contágio forçado, ou a teoria vale só para os outros? Claro que não se submeteria.

O que Bolsonaro e Terra fazem é uma tentativa de desafiar a racionalidade de Luiz Henrique Mandetta com um contraponto quase religioso.

E Terra, na condição de médico, dá às loucuras de Bolsonaro uma aparência de algo com consistência científica. Terra pode ser apenas o coelho, o cara que sai na frente puxando os outros na disparada da maratona criada por Bolsonaro.

Todos correm atrás do coelho, mas o vencedor vem longe. Se fosse apostar, eu ainda apostaria na oncologista e imunologista Nise Yamaguchi como substituta de Mandetta.

É mulher, é pesquisadora, tem currículo acadêmico e, mesmo que seja controversa e sem apoio entre os médicos, está em atividade. E ainda é bolsonarista. Dizem que ela já saiu do páreo, mas quer ser ministra.

Dizem também que Bolsonaro conversa com um candidato por dia. Todos os outros cogitados (o Globo tem uma lista enorme) talvez não sejam loucos no estágio exigido para aceitar um mico desse tamanho.