O coronel Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, admitiu erros no planejamento da corporação no dia 8 de janeiro. Por isso, não teria sido possível evitar o vandalismo na Praça dos Três Poderes. O coronel admitiu que faltou planejamento escrito, comando móvel no local e equipamentos de proteção individual. A declaração foi dada em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos, nesta quinta-feira (11).
“Tinha policiais combativos. O grande problema era a ausência de equipamento de proteção individual”, afirmou o então comandante da PMDF, ao ser questionado pelo presidente da CPI, Chico Vigilante, sobre a quantidade de policiais convocados para conter a invasão dos prédios públicos. “Aquelas tropas, com 200 policiais ali, sem equipamentos, foi um convite pra acontecer o que aconteceu”, afirmou Vigilante.
O ex-comandante disse que foi até o local pela manhã e que havia cerca de 550 homens, mas não soube precisar quantos estavam no período da tarde. “Eu detectei que de manhã havia um efetivo mais suficiente”, reforçando que o problema foi a falta de equipamentos e do comando móvel, que deveriam constar em um “plano de operações”, que deveria ter sido elaborado pelo Departamento de Operações (DOP), após a reunião na Secretaria de Segurança Pública no dia 6 de janeiro.
“Saindo da reunião [do dia 6] era necessário que seja feito um plano de operações. Eu tomei conhecimento, após o plano do interventor [Ricardo Cappelli], que não teria sido feito” disse o coronel Fábio. Vigilante perguntou se esse procedimento era normal. “Não é normal”, respondeu Vieira, afirmando que o responsável por fazer esse plano era o DOP, que era comandado pelo coronel Jorge Eduardo Naime (afastado no dia 8) e o coronel Paulo José (em exercício).
Apesar de afirmar que a responsabilidade pela falta de planejamento dentro da PM era do DOP, o depoente refutou a tese de que seu subordinado teria participado de uma trama. “O coronel Paulo José tem 30 anos de casa. Ele pode ter se equivocado, falhado, mas não acredito que ele tenha feito isso para prejudicar a PM”, disse o coronel Fábio.
Em relação ao coronel Naime, o depoente reconheceu que havia solicitado a troca do comando do DOP, mas assegurou que não foi por problemas pessoais. Em relação ao ex-secretário Anderson Torres, que segue preso em razão dos atos golpistas, o coronel Vieira disse que não tinha relação de proximidade. O ex-comandante da PMDF também foi preso suspeito de omissão, mas liberado, após o relatório de Cappelli dizer que ele não teria sido diretamente responsável pelas falhas de segurança.
Acampamento golpista
A inação da Polícia Militar em relação ao acampamento golpista que ficou instalado por meses em frente ao Quartel General do Exército foi um dos questionamentos apresentados pelo deputado Fábio Felix (PSOL), durante o depoimento. “De fato a PM e a Secretaria de Segurança Pública tinham a intenção de desmobilizar aquele acampamento?”, questionou o deputado, lembrando que em outras ocasiões ele próprio negociou com a PMDF a instalação de acampamentos de movimentos sociais na área tombada de Brasília e que é difícil, pois é exigido prazos para começar, para terminar e alvarás.
“A nosso intenção era de retirar o acampamento”, disse o coronel Vieira, acrescentando que “aquela área está sob administração militar do Exército Brasileiro. No dia 29 [dezembro, 2023] nós mobilizamos cerca de 500 homens pra fazer essa mobilização, porque nós tínhamos uma preocupação depois do dia 12 e a operação foi cancelada a pedido do general [Gustavo Henrique Dutra, Comandante Militar do Planalto] que faria a desmobilização utilizando os meios do Exército”.
Félix também questionou quem impediu as prisões dos golpistas no acampamento na noite do dia 8 e o ex-comandante da PMDF citou os generais Dutra e Júlio César Arruda, então comandante do Exército.
Convite de generais
A Comissão Parlamentar de Inquérito aprovou requerimentos transformando de convocação para convite as oitivas dos generais Augusto Heleno, Marco Edson Gonçalves Dias e Gustavo Henrique Dutra de Menezes. Os dois primeiros comandaram o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) e o terceiro era o chefe do Comando Militar do Planalto.
Publicado no Brasil de Fato