POR EDSON DOMINGUES
Desnecessário iniciar dizendo que a gestão de Ricardo Nunes não existe na questão ambiental. Há tempos a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo é um balcão de controvérsias, passando de governo em governo.
Com Dória, o gestor, a prefeitura trocou floresta por paredes verdes na 23 de Maio. Se não bastasse, a Secretaria do Verde desobrigou a exigência de publicidade de novos empreendimentos impactantes em Diário Oficial, um modo de desinformar a sociedade.
O desmatamento virou regra.
O ícone maior foi o episódio da Construtora Tenda ao lado da comunidade Guarany M’Bya, com o fim de 4 mil exemplares da mata atlântica no entorno do Parque do Jaraguá.
Loucura pouca é bobagem. Liberar verticalização as margens do Rio Jurubatuba mediante Operação Urbana Consorciada com destruição de vegetação significativa é mais um desastroso passo do agora prefeito Ricardo Nunes, que assumiu com a morte de Bruno Covas, antes do terceiro mês do mandato.
A coisa não para por aí. A fiscalização da cidade foi desmantelada, num sinal evidente de que o governo jamais foi um entusiasta da questão ambiental.
Nunes não vestiu a camisa na luta da sociedade em defesa do Parque Augusta. Quando tudo parecia irreversível, mandou subir uma placa intitulando a nova área verde com o nome do falecido que lhe deu a cadeira na qual se senta todos os dias no 5o andar do Palácio Anhangabaú.
Sem pudor emprestou o saldo ambiental do advogado Antônio Fernando Pinheiro Pedro, nomeando-o secretário executivo para assuntos de mudanças climáticas da cidade.
Pinheiro Pedro foi fundador da Comissão de Meio Ambiente da OAB. Notável no círculo ambientalista, já havia se distanciado das bases desde o início da década passada.
Na semana do meio ambiente, declarou no Fórum de Mudanças Climáticas da OAB-SP que o Planeta Terra se recupera sozinho diante do caos ambiental que se avizinha.
Sua fala na Comissão que ajudou a fundar na década de 80 o jogou no colo de Steve Bannon e Aleksandre Dugin.
Deu no que deu.
Pinheiro Pedro foi levado do cenário político na semana do ciclone extra tropical que matou quatro pessoas no sul e deixou rastro de destruição típica da decorrência de fenômenos que assolam o planeta em tempos de alteração do clima.
Ricardo Salles, aquele que mandou abrir a porteira na pandemia, se saiu melhor em situação similar.
O prefeito Ricardo Nunes dobrou a aposta. Nomeou o ex vereador Gilberto Natalini (PV) para o cargo de Pinheiro Pedro.
Natalini é figura carimbada. Foi secretário do Verde na curta passagem de Doria pelo comando da administração municipal. No início do texto configuramos sua atuação no Executivo ao lado do gestor.
Médico atuante na zona leste paulistana, Natalini assimilou a questão ambiental no seu primeiro mandato como vereador – exerceu a função 5 vezes.
Debruçou sua atuação parlamentar na produção mais limpa da indústria, no reúso da água e na pauta dos municípios saudáveis.
Questionou as gotículas aspergidas da fonte luminosa do lago do Ibirapuera e fez o anúncio do risco de uso do aparelho de telefonia móvel à saúde pública.
Percorreu bairros da capital denunciando irregularidades na instalação de antenas de transmissão de telefonia móvel quando o equipamento ainda era incipiente.
De galho em galho foi travando batalhas quixotescas. Propôs a oferta de ração humana, um composto desidratado de restos de comida de bares e restaurantes, na merenda escolar. A ilustre ideia foi o início do fim do triste processo de desmoralização pública de João Doria.
Foi participante do debate das mudanças climáticas comparecendo em uma das Conferências do Clima. Parou aí. Nada mais.
O agora secretário de Ricardo Nunes, que se alia ao bolsonarismo-raiz para tentar a reeleição, distanciou-se do “chão ambiental”, circulando em superficiais encontros que nada resultam em práticas efetivas.
Natalini carrega consigo o fardo de ter sido torturado, do combate, da defesa da democracia. Em tempos de avanço do fascismo é notório cada ausência na defesa da pluralidade
A aposta do prefeito é truco numa cidade que carece há tempos de uma gestão séria na preservação ambiental e nas iniciativas diante do caos instalado.
Edson Domingues é sociólogo graduado pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Líder em diversas frentes de luta sobre conflitos ambientais.