Na sua primeira entrevista exclusiva após a reunião do Copom que reduziu o ritmo de cortes de juros, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu a comunicação da instituição e a mudança no “guidance” da política monetária.
Ao Estadão, ele enfatizou a autonomia do BC e afirmou que nunca informou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre mudanças no “guidance” anteriormente. Campos Neto explicou que a divisão no colegiado foi discutida internamente e que cada diretor expressou suas opiniões. Apesar da divergência, destacou a importância da comunicação técnica e transparente.
“Já teve muitas mudanças de guidance – estou aqui há quase seis anos – e em nenhum momento passou pela minha cabeça ligar para o ministro Paulo Guedes para falar que eu achava que o guidance ia mudar para A, B ou C. É uma prerrogativa do Banco Central, que tem autonomia. Nunca fiz isso no governo anterior e com certeza não planejo fazer neste”, acrescentou.
Ele ressaltou que a comunicação do BC visa alcançar todos os agentes econômicos simultaneamente e que não há regras para consulta entre diretores antes de comunicações oficiais. Sobre a possibilidade de novos cortes da Selic, Campos Neto afirmou que é necessário tempo para avaliar as variáveis econômicas. Quanto à autonomia orçamentária do BC, ele destacou a importância da modernização administrativa para a continuidade do movimento de inovação.
“Não tenho como dizer se tem uma variável mais preocupante, todas são correlacionadas. Temos inflação corrente, expectativas de inflação, do Focus e inflação implícita, cenário externo, tema geopolítico que está balançando, o que isso significa para o preço do petróleo, a gente tem o tema do que vai significar a reconstrução do Rio Grande do Sul, sobre a inflação, o crescimento. Não tem uma coisa só”.
Campos Neto também abordou o impacto de eventos climáticos na análise do BC, enfatizando a necessidade de atenção a esses assuntos. Sobre a política monetária americana, ele evitou fazer projeções, destacando a complexidade do cenário global. Quanto às expectativas de inflação no Brasil, expressou o objetivo de trabalhar para mantê-las dentro da meta estabelecida.
“É importante perseguir a meta. Fala-se de centro, banda… a melhor forma de contribuir para o crescimento sustentável, sem gerar desigualdade é com inflação baixa. Isso já está comprovado”, finalizou.