A morte do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG, foi anunciada por ele mesmo em 2013, em mais uma prova cabal de que a vida imita a arte.
DG foi o personagem principal de um curta metragem chamado “Made In Brazil”. Está disponível no YouTube e você pode vê-lo acima.
Douglas faz o papel dele mesmo. Sai de uma partida de futebol de praia em Copacabana e vaga pelas imediações da favela Pavão-Pavãozinho. Passa em frente a uma creche, fala com moradores, ajuda uma mulher a levar sacolas de compras morro acima, toma um passe de um pastor evangélico.
Até que há um tiroteio. Ele é abordado por PMs que o agridem e, afinal, o executam com um tiro na nuca. A ideia do diretor Wanderson Chan era contar uma história sobre “os nossos problemas sociais em paralelo com a euforia da Copa”.
A realidade acabou por dar ao filme despretensioso um caráter transcendente. O corpo de DG, você sabe, foi descoberto na escadaria daquela creche. Segundo o IML, ele teve uma “hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar decorrente de ferimento transfixante do tórax. Ação pérfuro-contundente”. Leia-se tiro. O secretário de segurança do Rio, Beltrame, declarou que não descarta uma “possível culpa de PMs”.
A mãe de Douglas, Maria de Fátima, crê que houve tortura. “Eu fiquei com o corpo do meu filho até as 3h30 da madrugada e vi que ele tem um afundamento no crânio, um corte no supercílio e está com o nariz roxo. Eu acredito que mataram ele. Tenho certeza que ele foi torturado pelos policiais da UPP”, disse.
“Crônica de Uma Morte Anunciada”, de García Márquez, começa assim: “No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5 e 30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo”. No livro, Santiago é acusado de desonrar Ângela Vicário. Toda o vilarejo fica sabendo que o pior está a caminho, mas Santiago segue adiante para cumprir seu destino pelas mãos dos irmãos gêmeos de Ângela.
Maria de Fátima diz que pessoas registraram em vídeo o ataque a seu filho. Pediu a elas que tenham a coragem de divulgar as imagens. Talvez os vídeos não existam, mas não é necessário. “Made In Brazil”, feito um ano antes da morte de Douglas, explica muito sobre a morte e a vida de Douglas.