Cunha e Temer vão dormir tranquilos com Rodrigo Maia. Por José Cássio

Atualizado em 14 de julho de 2016 às 8:04
"Eu ajudei a eleger Eduardo Cunha", gaba-se Maia
“Eu ajudei a eleger Eduardo Cunha”, gaba-se Maia

 

A se considerar duas (reforma da Previdência e Pré-sal) das prioridades elencadas por Rodrigo Maia os conservadores não vão se decepcionar.

Eduardo Cunha também pode dormir tranquilo, pois nem o mais otimista acredita que o presidente eleito da Câmara dos deputados será um obstáculo na sua tentativa de salvar o mandato e a própria pele.

“Ajudei a eleger o Eduardo Cunha”, foi logo avisando Rodrigo Maia na sua primeira entrevista como presidente eleito. “No plenário, é possível que ele tenha sido o melhor presidente que já tivemos”.

De fato, para alguém que não preza a democracia Eduardo Cunha foi brilhante ao conseguir a proeza de caçar 54 milhões de votos mesmo estando à beira da prisão.

O show de horrores que comandou na sessão histórica de 17 de abril, quando a Câmara aprovou o impeachment de Dilma, é para o jovem deputado do DEM um exemplo notável de competência e um referencial histórico para o parlamento brasileiro.

Não por acaso Rodrigo Maia era um dos preferidos do interino Michel Temer para comandar a Câmara neste mandato tampão.

Sobre medidas impopulares, obsessão de Temer por ser a fatura que o setor produtivo lhe cobra pelo apoio ao golpe, já adiantou que também estão entre as suas prioridades.

“Estamos aqui para votar o que é urgente”, anunciou Rodrigo antes mesmo de ser perguntado. “Algumas matérias podem ser impopulares no curto prazo, mas, com elas, o Brasil pode estar melhor daqui a cinco anos”.

É batata que entre as tais medidas impopulares esteja a revisão da forma de reajuste do salário-mínimo – com base na inflação do ano anterior e no crescimento (PIB) de dois anos antes, o que normalmente garante um aumento acima da inflação.

Outro clássico defendido por Temer e que tem apoio do próprio DEM e do PSDB – Fernando Henrique disse isso publicamente – é o fim das despesas obrigatórias para saúde e educação, além de cortes nos programas de distribuição de renda, para não dizer da famigerada jornada de 80 horas semanais e da terceirização do trabalho.

Rodrigo Maia, como se pode observar, de jovem tem o rosto – no mais, é o típico caso de brasileiros bem nascidos que ascenderam na vida pública na base do “paitrocínio” e que estão aí para defender os interesses das chamadas classes dominantes.

Com 26 anos, indicado pelo pai, Cesar Maia, sem nenhuma experiência ganhou seu primeiro cargo importante: secretario de Governo de Luiz Paulo Conde na prefeitura do Rio de Janeiro.

Aos 28, foi eleito deputado, reelegendo-se sucessivamente em 2002, 2006, 2010 e 2014.

Entre seus bons amigos em Brasília estão Cássio Cunha Lima, filho do paraibano Ronaldo Cunha Lima, e Aécio Neves, neto do ex-governador de Minas Tancredo Neves. Coincidentemente, todos à sombra da trajetória pública de seus familiares.

Levando em conta a tradição, e o retrospecto, a Câmara, sob Rodrigo, tem tudo para continuar o que sempre foi: um espaço de troca de favores e defesa de interesses de pequenos grupos em detrimento da maioria.

Do jeitinho que Temer e Cunha sempre sonharam.