Na quinta-feira, dia 5 de junho de 2014, os funcionários do Metrô de São Paulo entraram em greve por tempo indeterminado. Antes da primeira paralisação, os metroviários ofereceram uma opção ao governador de continuar trabalhando, desde que ocorresse a chamada “catraca livre”, com usuários utilizando o serviço sem pagar.
A resposta de Alckmin foi: “Não, não. Veja bem, o Metrô é uma empresa, e como empresa, precisa ter um equilíbrio financeiro”. Não tivemos passe livre no metrô em São Paulo e nem reajuste de salário para funcionários.
Mesmo com o caos, eu decidi sair de casa. Estava trabalhando pelo sistema de home office, mas tive que usar o transporte público para compromissos na rua e me planejei para encarar o trânsito. Moro na zona norte paulistana, na região do bairro do Jaçanã. Normalmente demoro entre 1h30 e 2hrs para sair daqui e fazer trabalhos na zona sul, em locais que variam entre Avenida Paulista, Pinheiros e Berrini.
Saí em três dias: No início da greve, na sexta-feira (6) e no sábado (7).
O que salvou no transporte público com o metrô parcialmente interrompido: os corredores de ônibus.
1º dia
Peguei a primeira lotação na quinta-feira entre 11h e 12h. Precisava chegar ao meu destino às 14h na Faria Lima. Cheguei meia-hora antes, às 13h30. Como isso foi possível, com oito estações de metrô da zona norte fechadas? Tucuruvi, Parada Inglesa, Ayrton Senna Jardim São Paulo, Santana, Carandiru, Tietê, Armênia e Tiradentes, só para lembrar.
Se os corredores causam transtorno aos motoristas, eles diminuíram boa parte da minha demora ao ficar socado dentro de uma condução lotada.
A primeira lotação estava vazia, indo em direção ao Shopping Center Norte. Desci no Carrefour próximo à estação Tucuruvi de metrô. De lá, peguei um ônibus até a estação de metrô da Luz que, na Linha Amarela, privatizada, continua em funcionamento. O destino deste segundo ônibus, que estava lotado, era a estação Pinheiros de metrô.
Neste dia eu utilizei metrô privatizado, com medo de vários congestionamentos que vi nas avenidas Cruzeiro do Sul e Tiradentes, sentido centro. Como venho da zona norte de São Paulo, estou acostumado a encarar congestionamentos nestas áreas, mas o tráfego estava atípico para o horário de almoço. O metrô foi realmente rápido, porque não era horário de pico. Demorei 1h30 que, entenda, ainda é um tempo absurdo de ida em uma cidade com a capacidade de São Paulo.
A volta foi caótica, com cerca de 2hrs de duração. Antes, peguei uma condução da Faria Lima até a Vila Madalena, vazio, durante a tarde, para atender um compromisso. Da Vila Madalena de volta para a Linha Verde, que está parcialmente em funcionamento, foi uma demora. No metrô, foi rápido até a Luz, na Linha Azul. Naquele local, os ônibus estavam lotados rumo a zona norte. Pessoas se enfiando nas portas dos fundos, para não pagar a taxa e alguns tentando pular a catraca. Mesmo assim, andei num ritmo melhor que o dos carros, pela quantidade de congestionamento na Avenida Tiradentes até Santana.
Demora total: Mais de três horas.
2º dia
Na sexta-feira, utilizei apenas ônibus, porque precisava ir da zona norte até a Avenida São João, no centro, próximo da estação República da Linha Vermelha. Eu fui mais rápido do que iria, normalmente, no horário de rush: Foi 1h no trajeto, saindo da mesma lotação às 12h40. Peguei a condução novamente no Carrefour. Mais uma vez, os corredores foram essenciais para a minha locomoção rápida, porque não valia a pena descer do ônibus e pegar o metrô privatizado. Isso me atrasaria mais.
Cheguei no destino às 13h50. Cuidei do que precisava e sai de lá às 14h30. Fui caminhando até a estação República de metrô. Interessante notar, durante a caminhada, que a Avenida Ipiranga estava cheia no sentido centro, mas vazia na direção da zona norte. Almocei fast-food correndo perto do metrô e corri para a Linha Amarela em direção à estação Butantã.
Ao descer na Butantã, em direção à entrevista que precisava fazer ali, notei ciclistas evitando o trânsito da Vital Brasil em vias paralelas. Como há mais ciclovias na zona sul e na zona oeste – onde fica o Butantã -, o transporte alternativo por bicicletas é uma segunda alternativa ao caos provocado pela greve do metrô.
Na volta, demorei muito tempo. Eu me liberei da entrevista às 16h30. Fui do Butantã até a Luz em 30 minutos. Do ônibus da Luz até Santana, demorei 2hrs. Era 18h30. Santana fica a cerca de 20 minutos da minha casa. Eu demorei mais 1h10 lá. Cheguei 19h40 em casa. Foram 3h10, um caos de começo de final de semana em São Paulo.
Demora total: Mais de quatro horas
3º dia
Utilizei o carro. E foi o pior dia de todos.
Além da greve, que travou a mesma Avenida Tiradentes que conecta a zona norte com o centro de São Paulo, ocorreu a Marcha para Jesus, evento evangélico que mobiliza fiéis naquela mesma região. Vi cristãos reclamando dos grevistas do metrô, mas causando transtornos tão ruins quanto trabalhadores que querem um reajuste digno de salário.
Eu demorei 1h30 da minha casa perto do Jaçanã até o Mackenzie, perto da estação República de metrô, no centro. De lá, fui até a estação Saúde de metrô, levando mais 30 minutos. Ou seja, 2hrs andando de carro no começo de um final de semana.
A volta foi traumática. Da Saúde até a Faculdade Mackenzie, os 30 minutos se transformaram em 1h. Daquela região da República até minha casa, foram 3h30. Sim, caro leitor, foram três horas e meia para fazer um trajeto que eu fiz no dia anterior mais rapidamente de ônibus.
Demora total: Perdi cinco horas no carro.
Dá pra ficar sem o metrô?
Podemos entender uma coisa com tudo o que aconteceu: Mesmo com tanto caos nos transportes público e privado, o metrô não parou totalmente suas atividades.
Os metroviários propuseram uso do transporte sem pagar no primeiro dia. Pressionados pelo governo através da Polícia Militar, que inclusive prendeu alguns manifestantes, eles colocaram em funcionamento parcial as linhas 1 Azul, da Luz até a Saúde; 2 Verde, da Ana Rosa até a Vila Madalena; 5 Lilás em pleno funcionamento; e a 3 Vermelha, da Penha até a Marechal Deodoro.
Termino este artigo sabendo que, neste quinto dia de paralisação parcial dos metroviários, 42 trabalhadores foram demitidos por justa causa, segundo o governo. Os metroviários ganham cerca de R$ 1900 e pediram 10% de aumento, na casa dos R$ 200. Em assembleia, ficou decidido que a greve será suspensa por dois dias. Se os funcionários não forem readmitidos, o metrô volta a parar na quinta.