Advogado trabalhista há mais de três décadas, Wadih Damous foi deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro entre 2015 e 2019. Hoje no governo Lula, é Secretário Nacional do Consumidor, subordinado ao Ministério da Justiça chefiado por Flávio Dino.
Damous esteve presente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na última terça-feira (28), quando Dino criticou deputados bolsonaristas que o atacaram por visitar o Complexo da Maré no Rio de Janeiro e por defender maior restrição na política de armamento.
O secretário falou sorbe os bastidores de Dino na comissão, chamou Deltan Dallagnol de “valentão de internet” e deu sua análise sobre o depoimento de Tacla Duran, que acusou o ex-procurador e o ex-juiz da Lava Jato de tentarem extorquí-lo.
Wadih Damous concedeu uma entrevista ao DCMTV nesta quinta-feira (30). Veja alguns highlights.
Baixíssimo nível
O depoimento do Flávio Dino na CCJ foi muito divertido. Mas ali mostra, também, o baixíssimo nível que predomina no Congresso Nacional hoje. Essa turma de extrema direita é muito ativa e muito valentona na internet.
Quando eles vêm para o mundo real, aí eles se complicam. É muito difícil para eles concatenar um raciocínio. Entender princípios lógicos. Foi o que se viu. Flávio deitou e rolou. Mas pelo menos a gente se divertiu.
Dallagnol saiu de fininho
Ele há algum tempo tinha me bloqueado no Twitter. Isso aí é um valentão de internet. Dallagnol é um sujeito com quem eu gosto de me divertir. Eu estou em Brasília. Aqui me falta alguma diversão.
Quando vejo Sergio Moro no Senado e agora vi o Dallagnol na Câmara, dá uma sensação de que ainda resta muito por fazer. Quando se dizia que o “Brasil é um país da imunidade”, eles são um exemplo de que, para determinados extratos, predomina a impunidade no país.
Agora, por outro lado, do nosso lado, não se pode desistir nunca de combatê-los. Praticaram crimes. Eles têm que pagar pelos crimes que cometeram. E acho que esse depoimento do Tacla Duran pode ser um começo para que eles se sintam incomodados.
E eles já estão incomodados. Dallagnol, quando fica nervosinho, responde em rede social. Ele ficou quietinho na CCJ. Não ia se atrever a falar qualquer coisa ali. No momento em que se começa a furar uma bolha. Essa questão do Tacla Duran ficou durante anos confinada aqui no DCM, lá no 247, no Cafezinho.
Ainda que não tenha o destaque merecido, o UOL está divulgando isso. A GloboNews divulgou isso. O Globo. A bolha da turma que sempre protegeu a turma da Lava Jato começa a ser furada.
O novo juiz da 13ª Vara, Eduardo Appio, ao remeter para o Supremo os autos, age corretamente. Já que Moro e Dallagnol dão detentores de foro de prerrogativa de ação, chamado foro privilegiado. A competência de julgamento para quem detém mandato parlamentar é o Supremo Tribunal Federal.
Vamos ver o que vai acontecer. Mas é incômodo vê-los falando por ai. Falando as boçalidades de sempre. Livre, leves e soltos.
Eles têm que responder por aquilo que cometeram.
O caso Tacla Duran
O caso Tacla Duran vai depender da tramitação processual. Depende do Supremo. Ministro Lewandowski está de saída. Já anunciou que vai antecipar a aposentadoria. Teremos que aguardar a nomeação de um novo ministro.
O ministro herda os processos do ministro Lewandowski. Isso não depende do governo. Depende do Poder Judiciário.
A questão é muito simples. O que está colocado no Supremo, Tacla Duran documentou o que está afirmando. Deve-se chamar as pessoas envolvidas, abrir a investigação e seguir.
Esse é o ritmo do Poder Judiciário, que não é o mesmo da política.
Caso de lawfare de Lula não é parâmetro
O caso do processo de Lula mostra um Estado de exceção. Operado pela Lava Jato. Estado de exceção subverte as regras. Os advogados até brincavam que queriam que o processo deles tivesse o “mesmo ritmo” do processo do Lula.
O processo do presidente furou a fila para inviabilizá-lo eleitoralmente. Não tem como comparar. Ali foi um Estado de exceção. A gente não preconiza isso. Não é porque as regras foram desrespeitadas com Lula que devemos fazer isso com os outros.
“Tem que julgar o Tacla Duran logo”. Não é assim. Lógico que a gente não espera que haja lentidão excessiva. Queremos que vá no curso que deve ser seguido.
Não vai ter a rapidez do processo do Lula, obviamente. Aquela rapidez foi excepcional. Ali foi para condenar o Lula e inviabilizá-lo politicamente.
Não é porque somos vítimas de uma arbitrariedade que vamos preconizar que isso aconteça com outros. O processo tem que seguir seu ritmo, dentro das regras estabelecidas. Da lei. Da Constituição.
Não a rapidez da trapaça.
O novo juiz da Lava Jato, que não repete Moro
O juiz está dizendo que está sendo ameaçado. Se isso estiver acontecendo, de fato ele precisa de proteção.
Ele não esclareceu que tipo de ameaça. O novo juiz é diferente do Moro. É um garantista. Afirma que age dentro da lei. Coisa que o Moro não fazia, cunhando aquele termo “República de Curitiba”.
Havia leis próprias desse pessoal para condenar as pessoas que eles achavam que tinham que ser condenadas.
O novo juiz está fazendo o seu trabalho. Tem um estilo diferente. Tem uma visão de Judiciário distinta do Moro. E isso causa incômodo na própria dupla Moro e Dallagnol. Não era assim que eles agiam.
Moro e Dallagnol estão “juntinhos” de Bolsonaro
Moro e Dallagnol, sem sombra de dúvida, integram a esfera da extrema direita. Professam os mesmos valores e princípios de Bolsonaro. A mesma mediocridade. É o mesmo ódio.
Mas eles não terão vida fácil. No Senado, Contarato atropelou Moro. Otto Alencar lembrou que ali ele não é mais juiz. É senador como qualquer um deles e segue as regras. “Peça questão de ordem e aguarde”, disse o Otto.
Moro não está acostumado com isso. Porque ele era o rei em Curitiba. Agora ele é um senador como outro qualquer. Vai ter que seguir as regras e vai ser sempre lembrado disso.
Veja a entrevista completa.