Os homens e mulheres flagrados em comentários desumanos sobre a morte da mulher, irmão e neto de Lula não merecem ser chamados de procuradores da república. Eles são, na verdade, filhos do Januário. Apenas isso: filhos do Januário Paludo, o veteranos dos procuradores da Lava Jato, e se saíram à cara do pai.
Nas apurações sobre abusos da Lava Jato, deparei-me com o mau cheiro da atuação de Januário Paludo em dois episódios. Um foi no início da operação, em 2014, quando uma escuta clandestina foi encontrada em uma das celas da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Alberto Youssef estava preso.
Houve sindicância, que não deu em nada, e um inquérito, que acabou arquivado por iniciativa de Januário Paludo, apesar das evidências e de testemunhos de que a escuta havia sido colocada lá pelos delegados mais próximos de Sergio Moro, entre eles Igor Romário de Paula, hoje na cúpula da PF em Brasília.
O outro episódio foi em Atibaia, na investigação sobre o caso do sítio. Dona Rosilene, uma mulher humilde, faxineira, cunhada do caseiro, Elcio Pereira Vieira, o Maradona, foi retirada de casa de manhã bem cedo em 4 de março de 2016, o dia da condução coercitiva de Lula, e levada com o filho de 8 anos de idade para depor.
Januário comandava a equipe. Ele não tinha intimação. Ainda assim, pressionou a mulher para depor. O caso foi narrado pelo marido, Lietides Pereira Vieira, em depoimento a Sergio Moro. “Ele (Juanuário) falou: em preciso falar com ela. Eu falei: ‘ela está dormindo’. E ele: ‘Não, não, acorda ela.’”, contou Lietides.
Uma advogada perguntou: “Eles apresentaram algum mandado de intimação?”
“Não, não, não”.
Lietides disse que acordou a mulher, como ordenou Paludo. “Ela levantou de pijama e conversou com eles. Eles copiaram o que estava no documento e foram embora”.
O marido foi ao médico, num posto de saúde no centro da cidade, e soube depois que Paludo e os federais tinham voltado à casa, e levado a mulher e o filho para depor.
O depoimento de Rosilene foi publicado pelo DCM (veja abaixo).
A Sergio Moro, Letiedes contou que o filho ficou muito assustado, não dormia mais sozinho e teve que passar acompanhamento psicológico.
Na audiência em que tomou esse depoimento, em junho de 2018, Moro deu cinco dias para o Ministério Público Federal se explicar. A explicação é cheia de furos. O Ministério Público disse, por exemplo, que não tinha certeza se a criança acompanhou no depoimento. Bastava ver o vídeo para descobrir que era mentira — a certa altura, a criança, com olhos arregalados, se aproxima da mãe.
Apesar disso, com as explicações do MPF, Moro encerrou o assunto.
Nos diálogos revelados nesta terça-feira, Paludo é autor de uma das frases mais cruéis sobre o luto de Lula. Respondendo ao comentário de um procurador favorável ao deslocamento de Lula para acompanhar o funeral do irmão, Vavá, Paludo afirma:
“O safado só queria passear e o Welter com pena”. Antônio Carlos Welter dissera o óbvio: Lula tinha direito de se despedir do irmão, o que não sensibilizou o procurador.
Há cerca de duas semanas, a defesa de Lula pediu ao STF o afastamento dos procuradores por parcialidade. O HC está com o ministro Edson “ahá, uhu, o Fachin é nosso”. Dificilmente uma liminar será concedida, como quer a defesa. E Paludo continuará acusando Lula juntamente com os seus filhos.
Na Lava Jato, Lula não enfrenta um processo judicial, nem procuradores cientes de suas responsabilidades. Ele é tratado como inimigo, alvo do linchamento e do ódio inexplicável de agentes públicos, melhor dizendo, de Januário e de seus filhos.
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Veja o vídeo com o depoimento da faxineira que foi levar para depor sem intimação:
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Nota da Redação: Artigo publicado originalmente em 18 de agosto de 2019, republicada agora em razão da revelação de que Dario Messer pagou propina a Januário Paludo. Leia mais: Paludo, procurador da Lava Jato que teria recebido propina de doleiro, debochou de Lula na morte de Marisa e do irmão