Não é só no Brasil: aparentemente a Espanha também é um péssimo país pra se nascer mulher.
A vítima do estuprador Daniel Alves, por exemplo, tem que observar, calada, a justiça espanhola ajudar o criminoso que a violou a voltar às ruas.
Por um milhão de euros, Daniel Alves conseguiu liberdade condicional e está por aí vivendo. Durante o período de liberdade – uma liberdade que provavelmente vai durar até o fim da “pena” -, ele pode, inclusive, voltar a trabalhar normalmente.
E sabe o pior?
A gente sabe que um ou mais clubes o aceitarão como jogador, porque não se importam de ter um estuprador no time. Jogando bem, que mal tem?
Um milhão de euros, que é tanto pra qualquer um de nós, é um troco pra um jogador de futebol milionário. Ele recupera esse dinheiro em um ou dois meses jogando, e continua sua vida tranquilamente, podendo, inclusive, quem sabe, fazer novas vítimas.
Desde a faculdade de direito, me recuso a ser punitivista. Acredito na ressocialização e acredito que criminosos podem cumprir suas penas e voltarem à sociedade, até mesmo para que não voltem a delinquir.
O que revolta, nesse caso, não é a liberdade condicional apenas. Não é “o que”, é “quem”.
Um estuprador preto e pobre estaria – como estão tantos neste exato momento – sendo também violado dentro de uma cela.
Mas o milionário, não.
Milionário tem licença pra estuprar. Mesmo condenado, ele pode pagar não apenas pela própria liberdade: ele paga para que a sociedade esqueça que ele é um estuprador ignóbil.
Diante dessa justiça cega, enviesada e patriarcal, a única coisa que nos resta, mulheres, é não deixar que o mundo esqueça que Daniel Alves (e Robinho, aproveitando o ensejo) é um estuprador condenado, e solta-lo depois da condenação é um insulto não só a vítima, mas a todas as mulheres, vítimas em potencial.
O que podemos fazer é o que fazemos uma vez mais: repetir que ele não é um jogador de futebol, ele é um ESTUPRADOR.
Nem a justiça, nem as diretorias dos clubes de futebol, nem a maioria dos homens (que relativizam estupro e violência) estão ao nosso lado.
Somos nós por nós, como sempre foi.
Em uma sociedade que trata o dinheiro como uma espécie de Deus, um milhão de euros pagam a vida inteira de uma mulher marcada pela violência sexual.
Ninguém se importa se isso é desrespeitoso ou coloca outras mulheres em risco. Ninguém se importa em ver que o estuprador pode seguir sua vida sem maiores consequências enquanto a vítima, provavelmente, levará uma vida inteira pra superar o trauma.
Somente nós podemos – contra esse sentimento insuportável de impotência – escrever na história do futebol que esse estuprador não merece ser reconhecido profissionalmente.
Já que o judiciário não nos faz justiça, que ao menos a história o faça.
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