Começou a temporada eleitoral 2024!
A pesquisa Datafolha com os principais aspirantes à prefeitura da portentosa cidade de São Paulo, a maior do país, simboliza o início oficial da luta pelo comando dos 5.570 municípios brasileiros.
Naturalmente, a disputa por Sampa, centro financeiro do país, será um teste emblemático para as eleições presidenciais de 2026. Será equivalente a uma super-hiper-gigante pesquisa eleitoral, feita com os 9,3 milhões de eleitores registrados no município. É um pouco mais do que todos os eleitores aptos a votar em Portugal (9 milhões), Suécia (7 milhões) e Hungria (7 milhões).
Isso não significa que uma vitória ou derrota em São Paulo marcará fatalmente o destino das eleições presidenciais. Afinal, por mais que 9 milhões seja um número monstro, o Brasil tem 156 milhões de eleitores registrados nacionalmente.
Mas é um indicativo importante, sobretudo se descontarmos o fator regional. Ou seja, se a esquerda conquistar a capital paulista, será obviamente um bom sinal para 2026. Se perder, o grau de perigo será mensurado pela magnitude do insucesso, e não necessariamente pela derrota em si.
Apenas a zona sul de São Paulo tem 3 milhões de eleitores. Para se ter uma ideia, na primeira eleição presidencial da república, em 1889, o Brasil inteiro tinha aproximadamente 1 milhão de eleitores aptos a votar.
No segundo turno das eleições de 2022, Lula ganhou na cidade de São Paulo, obtendo 3,67 milhões de votos validos (53,5% do total), contra 3,19 milhões para Jair Bolsonaro (46,4% do total). Esses números injetam otimismo na campanha de Guilherme Boulos (PSOL) para 2024.
Agora vamos à pesquisa Datafolha.
Na espontânea, Boulos abre com 8%, um número pequeno, revelador de que o quadro ainda pode mudar muito até as eleições. Ems egundo lugar, vem Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito, com 4%.
Na pesquisa estimulada, Boulos tem 32% dos votos, contra 24% de Ricardo Nunes. Uma surpresa boa para a esquerda paulistana é o bom desempenho da jovem deputada federal Tábata Amaral (PSB), que pontuou 11%. Como é dado como certo que Tábata deve apoiar Boulos num eventual segundo turno, e como o eleitorado da deputada é mais progressista (apesar da animosidade que ela atrai para si entre a militância de esquerda mais radicalizada), ele tende a migrar, em massa, para o candidato do PSOL.
O trunfo (e a maldição) de Ricardo Nunes, por sua vez, é o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. É maldição porque Nunes parece não ter escapatória. Caso não abrace Bolsonaro incondicionalmente, fervorosamente, pode perder votos para algum candidato mais diretamente identificado com o ex-presidente, que pode ser Ricardo Salles ou outro.
A avaliação de Ricardo Nunes, fator importante para se medir a viabilidade de reeleição de um prefeito, se mantém um fator neutro. Não é a pior do mundo, mas é medíocre: 24% de ótimo e bom e 24% de ruim e péssimo. Parece ser o suficiente, todavia, para lhe garantir um lugar no segundo turno.
Um outro gráfico da pesquisa indica o alto grau de dificuldade para Ricardo Nunes: 79% dos entrevistados afirmaram que esperam “ações diferentes do próximo prefeito da capital”, o que significa que há um espírito de oposição absolutamente majoritário entre os eleitores. Esse número pode garantir a vitória de um candidato que o eleitor veja como um adversário de Nunes. Por outro lado, repare que 17% responderam que esperam que as ações “sejam iguais”. Mais uma vez, é uma percentual que pode garantir a vaga no segundo turno para Nunes.
O grau de interesses dos paulistanos na eleição para prefeito está mais alto do que costuma ser, faltando mais de um ano para o pleito: 38% dos entrevistados disseram que tem “interesse grande” e 31% que tem “interesse médio”. Ou seja, quase 70% dos paulistanos estão atentos, desde já, aos movimentos dos partidos e candidatos para a disputa da capital.
A pesquisa identificou ainda que o paulistano também está mais atento à disputa para vereador, com 60% dizendo que tem interesse grande ou médio na eleição legislativa do município.
Vale destacar que Guilherme Boulos precisará de uma base sólida na Câmara dos Deputados, e dada a dinâmica de sua estratégia eleitoral, dotada de muito entusiasmo militante, com grande participação da juventude universitária e da classe média engajada, é possível que ele consiga eleger um monte de vereadores alinhados consigo.
Conclusão
Essa pesquisa é, por si só, uma grande vitória política para Guilherme Boulos. Liderar uma pesquisa dessa qualidade, a um ano da campanha, contra um incumbente, injeta ânimo numa campanha que promete ser uma das mais intensas e animadas do país.
Para os céticos numa vitória de um nome tão identificado como “esquerda raíz”, na cidade mais rica do país, vale lembrar que o PT já conquistou a prefeitura de São Paulo três vezes, com Erundina, Marta Suplicy e Haddad.
Há muita gente conservadora em São Paulo. Mas os dados eleitorais mostram que há um número ainda maior de eleitores progressistas.
Além disso, metrópoles cosmopolitas costumam dar vitórias a progressistas, vide o caso de Nova York, Paris, Roma, Barcelona e Londres, todas cidades administradas por forças consideradas de esquerda em seus países.
No caso de Boulos, ele tem dois trunfos na mão. Além do voto entusiástico da juventude e do setor mais progressista da classe média paulistana, ele também terá o apoio de Lula e do PT, o que pode lhe ajudar muito a construir uma campanha profissional e eficiente nas periferias da cidade, garantindo sua vitória num eventual segundo turno.
Originalmente publicado em O Cafézinho
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