Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor
POR LUIS FELIPE MIGUEL, cientista político
A manchete da Folha dá conta que o apoio à reforma da Previdência está crescendo.
Sem repisar as críticas epistemológicas que faço regularmente às sondagens de opinião, cabe perguntar: que apoio é esse?
A reportagem diz que “50% dos brasileiros com ensino fundamental e 45% dos que vivem em famílias com renda mensal de até dois salários mínimos dizem não ter tomado conhecimento da proposta”.
Ao todo, só 17% dos entrevistados se dizem “bem informados” sobre a proposta. Entre estes, a reportagem enfatiza, é maior o apoio à redução dos direitos previdenciários.
Deixando de lado o fato de que há uma correlação entre “mais informado” e “com maior renda”, seria necessário estudar de onde vem a informação que muitas destas pessoas julgam que têm.
Da agressiva e mentirosa campanha de propaganda do governo? Ou da escandalosamente enviesada cobertura da totalidade da mídia corporativa, incluída aí a própria Folha?
A disputa pela Previdência é um caso quase desinteressante, de tão óbvio, do uso da categoria “opinião pública” nas disputas políticas.
Primeiro, sufoca-se o debate e impõe-se uma leitura não apenas unilateral, mas efetivamente distorcida, da realidade. Depois, colhem-se respostas a um questionário e o resultado serve para dar um verniz “democrático” à posição antes imposta.
Nada disso é inesperado. Devemos pensar é por que o campo popular está sendo tão inefetivo em mobilizar suas próprias redes de informação e conquistar uma resistência ativa a um projeto tão danoso para a classe trabalhadora, para as populações pobres e para as mulheres – isto é, para a esmagadora maioria dos brasileiros.