José Roberto Batochio, advogado de Guido Mantega e Antônio Palocci, foi o entrevistado da semana no programa do DCM na TVT.
Ele recebeu a equipe em seu escritório na Avenida Paulista um dia depois da prisão do ex-ministro Mantega no hospital Albert Einstein.
Dois dias depois, Palocci seria preso numa operação chamada Omertà (o código de silêncio da máfia). “Só porque ele tem um nome descendente de italiano, como eu tenho também, além de ser absolutamente preconceituoso com os descendentes de italianos. Essa designação é perigosa”, acusou. “Estamos voltando aos tempos do autoritarismo, da arbitrariedade”.
“A liberdade está sendo cerceada”, disse ao DCM. “A questão se eles sabiam ou não que a mulher de Mantega estava sendo operada é importante, mas secundária. Prenderam por quê? A liberdade humana virou uma coisa de quinta categoria, prendem assim sem mais nem menos. Há um nicho de pessoas mais inclinadas ao autoritarismo, levando o Brasil a um passo da barbárie. Foi uma detenção abusiva, autoritária e desumana”.
Batochio conta que aquela era a sexta intervenção cirúrgica de Eliane Berger. “Fora a quimioterapia. A penúltima sessão de quimo foi aquela em que ele foi hostilizado pelo público”.
“Juiz, para mim, tem que ser impessoal”, afirma, referindo-se a Sérgio Moro. “Se não for, o estado tem que tomar providências. Tem que ser equilibrado e manter equidistância. Não posso concordar com essa absoluta inadequação. É direito de todo cidadão ser julgado por um juiz imparcial. A lei assegura isso”.
A opinião pública tem um papel fundamental na Lava Jato. “A Mãos Limpas tinha uma estratégia parecida. Aí fica mais fácil prender. Com base na opinião pública ocorrem linchamentos, execuções sumárias e outras barbaridades. Bastar lembrar da Escola Base. A turba ficava gritando, depredaram a escola… e as pessoas eram inocentes”, diz.
A atuação da mídia é mais “dolosa”, aponta o advogado. “É o favorecimento escancarado de apenas um lado. Isso é consciente. Estamos numa época do vale tudo sem precedentes. O ódio é disseminado”.
O Congresso não escapa do baixo nível. “O declínio é acentuado. É um parlamentar xingando o outro, o que é incompatível com o protocolo parlamentar”. No depoimento de Eike Batista em que ele declara que Mantega pediu 5 milhões de reais ao PT, o empresário incluiu o PSDB na conta, mas foi ignorado.
“O Ministério Público deve apurar toda denúncia e investigar. É seu dever”, diz. Isso decorre do caráter seletivo da Lava Jato, conta Batochio.
Moro soltou Mantega cinco horas depois. “Pegou muito mal. Ele pensou: ‘Vamos consertar rapidamente esse erro para a opinião pública não cair matando’. Por que o corruptor [Eike] não foi detido? Confessou e não foi preso. É uma incongruência.”
Haverá um ponto em que a sociedade se dará conta do autoritarismo?
“Sim, um momento de consciência coletiva se dará contra esse clima de delações, grampos. O público leigo vai entender que não é assim que se faz. Todos nós queremos que não haja mais corrupção, mas o estado não pode violar os direitos e nem praticar crimes.”
Abaixo, a entrevista de Batochio:
https://www.youtube.com/watch?v=YXTjdEvExwI