Parece que finalmente ser racista, machista, gordofóbico e homofóbico tem deixado de ser um bom negócio no Brasil. No mesmo país em que o goleiro Bruno, um feminicida condenado, tem fãs, um participante de reality com comportamentos tóxicos é eliminado apesar de ser branco e padrão.
Tudo bem: a eliminação de Gabriel Fop do Big Brother Brasil foi apertada. Por pouco não eliminaram uma mulher – chata pra c*ralho, não que isso justifique – no lugar dele, mas, em se tratando de Brasil, já é um grande avanço.
Mas o que, afinal, esse homem tanto fez pra ter levado sermão ao vivo do apresentador do programa e invertida de uma das maiores patrocinadoras do reality, além da eliminação e da rejeição de milhões de telespectadores?
A verdade é que eu não sei nem por onde começar.
Primeiro, ele teve um comportamento completamente inaceitável com Bruna Griphão, com quem se relacionou rapidamente no programa. O modelo chegou a dizer que daria “cotoveladas na boca” da atriz, o que motivou a intervenção do apresentador e gerou revolta na internet.
Não satisfeito, foi flagrado pelas câmeras fazendo cara de nojo enquanto outra participante, negra, soltava seu black power. “Seu cabelo é duro como um carpete”, disse a outro participante, a quem chamou de “Penélope gordosa”.
Não é a primeira vez que um participante do BBB apresenta comportamentos escancaradamente preconceituosos e grotescos. Felipe Prior, do BBB20, se comportava de maneira similar, e conseguiu avançar bastante no jogo mesmo assim.
Paula, do BBB 19, também falou em “cabelo ruim”. Resultado: venceu a edição.
Agora, em vez disso, o Brasil elimina o macho escroto e as patrocinadoras ainda se manifestam. Há, sim, o que celebrar, mesmo se tratando de um programa de cultura de massas – aliás, justamente por se tratar de um programa de cultura de massas.
A Pantene, uma das maiores patrocinadoras do programa, escreveu uma mensagem bem direta para o modelo, embora não o tenha citado nominalmente:
“Não existe cabelo duro, não se compara cabelo com carpete. É inaceitável que em 2023 ainda estejamos vendo e vivendo qualquer tipo de discriminação a respeito dos fios de quem quer que seja. Repudiamos comentários como esses e reforçamos que todo cabelo é LIVRE para ser”, escreveu a marca nas redes sociais.
Gabriel bem que tentou usar a cartada do “todo mundo tem direito a uma segunda chance” e “eu estou aprendendo”, mas a sociedade, finalmente, decidiu parar de tratar homem feito como moleque e ele teve que vir aprender aqui fora.
Reality não é lugar de aprender o mínimo sobre como respeitar as pessoas. Se você não aprendeu a vida inteira, faz seus corres, irmão.
O recado está mais do que dado: o preconceito é intolerável num país que passou pelo que nós passamos. E é justamente em um programa de cultura de massas que se pode ver os avanços das massas, da opinião pública, da sociedade, enfim – que são, no fim das contas, o que interessa.