Debate foi achatado pela decisão de Moraes de proibir o tema pedofilia. Por Denise Assis

Atualizado em 17 de outubro de 2022 às 12:08
Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes (Foto: Reprodução | ABR)

Por Denise Assis

Quem ganhou o debate foi o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE. Ao decidir tirar de pauta o tema das “meninas venezuelanas” citadas numa entrevista de Bolsonaro, levantou a autoestima dele, a ponto de permitir que entrasse em cena com a certeza de que Lula não poderia tocar no assunto que o havia desestabilizado na noite anterior. Bolsonaro sem esta decisão, viria para o debate amedrontado, inseguro, nas mãos do imponderável.

Ele não só chegou com a certeza de que não teria que enfrentar os ataques ao tema mais nevrálgico do dia, como também se escorou na presença do ex-juiz Sergio Moro na plateia, para entrar quente na pauta que ainda não é tratada com tranquilidade por Lula: a Lava-Jato. É visível o desconforto que ainda experimenta.

O ex-presidente não consegue – e quem poderia, depois de enfrentar uma prisão injusta de 580 dias? -, falar disso de forma clara e objetiva, invertendo a pauta para apontar no campo de Bolsonaro, todas as suas falcatruas. Lula é inocente. Moro foi condenado. Estando ou não, na plateia, é alguém que se desmoralizou com um processo que não parou em pé. Basta lembrar que Moro foi encolhendo. De candidato à presidência, a quase deputado federal. Conseguiu, a muito custo, uma vaga para o senado. Foi eleito? Sim, mas sem a capa de super-herói. Longe disto.

Foi de muita audácia e eu diria até mesmo, intimidatório, o gesto de colocar a mão no ombro do ex-presidente. O debate deveria proibir o contato físico. Evidente que desestabiliza. Lula ficou visivelmente surpreso. E com toda razão. Não há na história dos debates esse tipo de contato. A não ser o protocolar aperto de mãos no início.

O que esperar de um Bolsonaro mais alto, conhecidamente agressivo, indo em direção a um Lula fisicamente mais baixo e adversário ferrenho dessa figura que, confesso, se tocasse no meu braço, ou eu gritaria ou teria engulhos.

Lula esgrimou com a competência que sua experiência permitiu, mas foi mais agredido que agrediu. Bolsonaro, no final, fez um proselitismo exagerado. Lula foi repetitivo ao acusá-lo do que ele de fato é: mentiroso. A corrupção de Bolsonaro não apareceu tanto quanto merecia, no currículo do candidato à reeleição. A incompetência e a vagabundagem também foram pouco exploradas.

Porém, Lula foi magistral ao enfrentar a visão preconceituosa e racista do atual presidente, que ao mencionar sua visita ao Complexo do Alemão, passou a ideia de que ali só vivem traficantes e bandidos. Lula foi ovacionado na comunidade e saudado por uma multidão de trabalhadores e de estudantes que sacudiam camisetas das universidades públicas nas janelas, em gratidão ao acesso concedido a eles pela política de cotas do seu governo.

Perdeu, contudo, a chance – quando atacado sobre religião -, de dizer que quando se trata de desrespeito ao setor, Bolsonaro é campeão. Conseguiu estragar os festejos à padroeira, invadindo – ele sim, invadiu – a basílica com o seu bando de bêbados. Passaram por cima da fé e do sacrifício dos romeiros que andam quilômetros para estar perto de Aparecida no seu dia. Tentaram, inclusive, silenciar os carrilhões da basílica em saudação à Nossa Senhora. Agora vão aguardar o resultado das urnas para saber por quem os sinos dobram.

Publicado originalmente em Jornalistas pela Democracia 

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