A declaração do ministro Raul Jungmann sobre a investigação em torno do assassinato de Marielle Franco dá a medida do fracasso que foi a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro. Disse o ministro:
“São duas (as dificuldades). Em primeiro lugar é o fato, que é difícil de te responder… Com as informações que tenho, eu não posso trazer todas aqui porque senão eu criaria problemas para a própria investigação. Em segundo lugar, a complexidade. Esse assassinato da Marielle envolve agentes do Estado. Envolve, inclusive, setores ligados seja a órgãos de setores do Estado seja a órgãos de representação política”.
O ministro tentou consertar depois, com uma declaração que só piorou a quadro de desgoverno. Tentou associar o crime a denúncias não comprovadas de envolvimento de um vereador no Rio de Janeiro. Coisa antiga, que não avançou.
O fato é que, no próximo dia 14, se completam cinco meses do assassinato dela e do motorista, Anderson Gomes, e as autoridades de segurança no Rio de Janeiro não conseguiram dar ainda uma resposta convincente sobre as investigações, alguma pista concreta.
Tudo continua na completa escuridão.
Quem matou Marielle? Quem mandou matá-la?
Sem dar resposta para o crime, a segurança pública do Rio de Janeiro consuma uma suspeita da própria Marielle, tornada pública alguns dias depois da intervenção, poucos dias antes de ser assassinada.
Em entrevista à Ponte Jornalismo, ela disse que a intervenção não resolveria o problema. “É uma atitude política”, disse.
Segundo ela, aumentaria a repressão aos pobres, mas, fundamentalmente, não tornaria o Rio de Janeiro uma cidade mais segura.
As declarações do ministro Jungmann, ditas sem que fossem acompanhadas de algo mais consistente e, depois, quase desditas, não tiveram a repercussão devida.
Se é fato que existem agentes de Estado envolvidos, merecem ser aprofundadas.
Não havendo as autoridades de Estado envolvidas, no grau em que deu a entender o ministro, as declarações revelam a inépcia das autoridades de segurança.
A menos que não esclarecer o crime, deixando no ar a nuvem da suspeita e o ambiente de medo, seja exatamente o que se pretende com o caso Marielle.
De qualquer forma, uma situação inaceitável.
Abaixo, o vídeo da entrevista de Marielle sobre a intervenção militar: