Nesta segunda-feira (13), em entrevista à jornalista Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico, o banqueiro André Lara Resende afirmou que o Banco Central (BC), principal autoridade monetária do país, está preso em interesses passados e que, caso entre no comando do banco, quer ver “se o mercado vai encarar”.
Ainda não se sabe se o economista de fato aceitaria o comando do BC se fosse convidado, já que ele não se posicionou diretamente sobre o cargo. Mesmo assim, Resende provocou: “Deixa eu sentar lá pra ver se o mercado vai encarar”.
Nos últimos dias, a eventual indicação de André Lara para presidir o BC tem sido um assunto extremamente comentado no mercado. Porém, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, tem um mandato até 2024, e para Resende assumir esse papel, o atual chefe teria que renunciar à cadeira. Até agora, no Congresso, o PT não possui votos para tirá-lo do cargo e eleger o banqueiro.
Ontem, em entrevista ao Roda Viva, Campos Neto defendeu a condução da política monetária, disse que gostaria de aproximar o Banco Central do governo e se posicionou contra a mudança da meta de inflação.
Questionado se aceitaria presidir o BC, André Lara disse: “Isso é pergunta que se faça? Qualquer pessoa competente que sente lá não ficaria refém do mercado”. Em outro momento, o possível sucessor disse não enxergar um confronto com o mercado. Caso exista, para ele, a instituição financeira poderá enfrentar.
Na perspectiva do banqueiro, o “tom conciliador” da nova equipe econômica obrigou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a enfrentar a “arrogância do Banco Central” e ser visto como “radical”. “Ele [Lula] montou um ministério conciliador que não estava enfrentando a arrogância do Banco Central e ele foi obrigado a sair a campo”, disse.
O novo grupo econômico em questão é composto pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda, a ex-senadora Simone Tebet (MDB), do Planejamento e Orçamento, e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
“Haddad não precisa concordar comigo. O ministro é ele. Tem opiniões divergentes dentro do governo, dirá fora (…) Simone disse que o déficit é insustentável e que o país deve evitar gasto desnecessário. Se alguém propôs gasto desnecessário não deveria ser ministro”, comentou.
Favorável à autonomia do BC, Lara Resende defende que Campos Neto deve permanecer no cargo. “Ele não é o único voto no Copom e está submetido ao Conselho Monetário Nacional. Basta que ele, inteligente como é, não confronte um governo legitimamente eleito”, encerrou.