A delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos que resultaram na morte da vereadora Marielle Franco (Psol), pode finalmente trazer à tona a identidade do mandante do crime ocorrido há quase seis anos.
Lessa, já sob investigação da Polícia Federal (PF) desde fevereiro do ano passado, concordou em revelar o responsável pelo crime em troca de benefícios legais. A delação está atualmente no Superior Tribunal de Justiça (STJ), sugerindo que o mandante possa ter foro por prerrogativa de função, conforme informações do jornal O Globo.
Faltando menos de dois meses para o sexto aniversário do crime, em 14 de março, a delação de Lessa pode ser crucial para a conclusão do caso. No entanto, as informações fornecidas pelo ex-PM precisam ser confirmadas pelos agentes federais do Grupo Especial de Investigações Sensíveis (Gise), especializado em casos complexos como o assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes.
Antes de Lessa, a PF já obteve a delação de Élcio de Queiroz, outro ex-PM, que admitiu dirigir o carro usado na emboscada contra a vereadora. Élcio mencionou o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão em seu acordo. Com foro privilegiado, há a possibilidade de Lessa ter citado o nome de Brazão, cuja delação está nas mãos do ministro Raul Araújo, do STJ.
Brazão já havia sido investigado por diversas instâncias antes da delação, mas nada havia sido comprovado contra ele. A Polícia Federal, inclusive, buscou avaliar a diligência da Polícia Civil do Rio na investigação inicial, conhecida como “investigação da investigação.”
O ex-delegado Leandro Almada, atual superintendente da Polícia Federal do Rio, produziu um relatório de 600 páginas em 2019, desmascarando uma farsa que incriminava o miliciano Orlando Oliveira de Araújo e o então vereador Marcello Siciliano. Ferreirinha, ex-policial militar, apresentou-se como testemunha para criar uma versão falsa contra Orlando da Curicica, seu ex-chefe, com o objetivo de tomar seu território após sua prisão.
Atualmente, Almada, como superintendente da PF, encarregou o Gise de desvendar o mandante do crime após receber a missão do ex-ministro da Justiça Flávio Dino e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Com o prazo até março, dado pelo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, a delação de Lessa pode ser um passo crucial para desvendar os mistérios que envolvem a morte de Marielle Franco. Além de Brazão e Siciliano, a Polícia Civil investigou o ex-bombeiro e ex-vereador Cristiano Girão.