Moro no bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo, caminho de Joanópolis, onde fica o sistema Cantareira, atualmente usando volume morto, com cerca de 6% de sua capacidade. Desde ontem, cinco dias depois da reeleição de Geraldo Alckmin, eu não posso mais tomar banho à noite em minha casa.
Acabou a água.
Minha história não é novidade para muitos paulistanos. O ex-candidato ao governo de São Paulo pelo PSOL, Gilberto Maringoni, participou do último debate dos presidenciáveis na TV Globo do Rio de Janeiro.
Cansado após a viagem de retorno, Maringoni disse que chegou até sua casa e as torneiras não estavam mais funcionando. Relatou tudo através das redes sociais.
Sei que posso ter água pela manhã porque a Sabesp está fazendo um “rodízio forçado” com as pessoas em minha cidade para manter algum nível de abastecimento. Mas o município de Itu, por exemplo, ficou na seca por dez dias seguidos. A cidade permanece com problemas de abastecimento que deixam os moradores até 48 horas seguidas sem banho.
Você aguentaria ficar dois dias sem banho? Não precisa responder se for francês.
Minha noiva passa problemas diários por conta do rodízio há mais de um mês. Ela tem água durante o dia a partir das 8h da manhã e deixa de ter às 20h.
Um vizinho da rua da frente da minha casa comprou água engarrafada do supermercado para não depender da Sabesp. Falou pra mim: “Não dá pra acreditar que o governador deixa esse tipo de coisa acontecer sem que ninguém se revolte”.
Não moro em um bairro rico, mas não sou uma pessoa de poucas posses. No entanto, por morar numa região periférica da cidade, para mim era óbvio que a falta de água iria começar em regiões como a minha, além das comunidades miseráveis que não contam nem com um sistema de esgoto minimamente regularizado.
A Sabesp, responsável pela gestão do sistema Cantareira, é uma empresa pública gerida pelo governo com ajuda do capital privado. Tem ações listadas na bolsa de valores. Alertas foram feitos desde a metade do ano passado sobre os problemas com a falta de chuvas. De acordo com especialistas na área, transferências de volumes entre as reservas poderiam ter sido realizadas, além de ações para prevenir a perda do recurso.
Não recebi nenhuma recomendação da Sabesp para fazer um racionamento. Alckmin também não deu nenhuma declaração sugerindo como dizendo o paulistano deveria se comportar. Estava em campanha pela reeleição.
Tudo o que recebi foi um telefonema informando ontem que o abastecimento de água da minha rua havia sido interrompido. Usei o pouco da reserva da caixa d’água do prédio para tomar um último banho.
Eleitores de Alckmin discutiram comigo argumentando que eu exagero ao atribuir a responsabilidade ao governador. Afirmam que ele não podia prever o atual clima em São Paulo.
Se ele não podia prever, porque continua omitindo os “rodízios forçados” da Sabesp?
O eleitor do PSDB tem uma reação curiosa. Diante do PT e de outros partidos, incluindo até o PMDB, ele é o primeiro a apontar dedos e exigir providências em casos de acusações de corrupção. No entanto, ele se retrai ao admitir as falhas dos políticos de seu próprio partido.
Geraldo Alckmin está reeleito com 58% dos votos e terá mais quatro anos para governar o estado. O PSDB completará 24 anos aqui. Não posso mais querer outro candidato. Por isso, eu peço apenas que os cidadãos fiscalizem de verdade a pessoa em quem votaram.
Acima de tudo, eu quero voltar a tomar um banho sossegado à noite. Não deveria ser nada demais.