Denunciado por importunação sexual, Falcão foi amigo de um dos maiores torturadores da ditadura

Atualizado em 6 de agosto de 2023 às 11:13
Falcão e o torturador Pedro Seelig nos anos 70

O ex-jogador da seleção Paulo Roberto Falcão pediu demissão do cargo de coordenador de futebol do Santos na sexta-feira (4), após ser denunciado por suspeita de importunação sexual.

A vítima abriu boletim de ocorrência na Delegacia de Defesa da Mulher. Ela é funcionária do apart hotel onde Falcão mora no litoral de São Paulo e contou à polícia que ele “roçou” por duas vezes, em momentos diferentes, o seu pênis no corpo dela.

A autoridade policial, a fim de preservar sua intimidade, decidiu resumir as informações no documento.

Gigante com a bola rolando, mas um fracasso como técnico ou dirigente, Falcão sempre foi um exemplo de elegância no campo e fora dele. Daí a surpresa de amigos de loga data, como Casagrande.

Há, porém, episódios bastante nebulosos de sua trajetória, pouco elucidados por causa de sua boa relação com a mídia.

Em 2022, morreu em Porto Alegre de infarto, sequela da Covid-19, o delegado de polícia Pedro Carlos Seelig. No início dos anos 70, auge da repressão, Seelig era o delegado mais temido do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) no Rio Grande do Sul.

Era um torturador contumaz e formou, junto com os psicopatas Ustra e Fleury, a santíssima trindade do porão. Fez parte da lista dos 377 brasileiros acusados de graves violações dos direitos humanos cometidas durante os 21 anos ditadura, segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Seelig era assíduo no Beira-Rio. Era comum vê-lo nas arquibancadas do estádio colorado em dias de jogo. Tinha passe livre no vestiário do time e se vangloriava da amizade com Falcão, estrela do Internacional.

Além disso, Reinaldo Salomão, procurador de Falcão, era cunhado de Seelig e também delegado do DOPS. Chegou a armar o esquema de segurança dos jogos no interior do RS.

Seelig era bajulado pela imprensa gaúcha. Ficou notório ao ser flagrado como o chefe do sequestro dos uruguaios Universindo Diaz e Lilian Celiberti em 1978. Numa ocasião, levou o filho adotivo, de 17 anos, para o DOPS. O objetivo era dar um “corretivo” no rapaz, que saiu dali para o hospital, e do hospital saiu morto por afogamento.

Falcão nunca tocou no assunto porque nunca lhe perguntaram.