A única carta possível de Michel Temer, e que ele jamais escreverá dada sua baixa estatura moral, é a da renúncia.
A que ele destinou aos deputados é mais um ato de desespero de um homem acuado, um corrupto contumaz afetando revolta, às portas da votação da segunda denúncia, traído por seu ex-comparsa Rodrigo Maia, apelando a outros ladrões.
“Prezado parlamentar”, começa ele. “A minha indignação é que me traz a você. São muitos os que me aconselham a nada dizer a respeito dos episódios que atingiram diretamente a minha honra. Mas para mim é inadmissível. Não posso silenciar. Não devo silenciar”.
Ele se vitimiza: “Tenho sido vítima desde maio de torpezas e vilezas que pouco a pouco, e agora até mais rapidamente, têm vindo à luz. Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência da República. Mas os fatos me convenceram”.
Deixa claro para que serviu a capa vagabunda da Época com o comparsa Cunha — cujo autor, Diego Escosteguy, propagandeou o “furo” nas redes sociais como se não se tratasse de uma encomenda:
Em entrevista à revista Época, o ex-deputado Eduardo Cunha disse que a sua delação não foi aceita porque o procurador-geral exigia que ele incriminasse o presidente da República. Esta negativa levou o procurador Janot a buscar alguém disposto a incriminar o Presidente. Que, segundo o ex-deputado, mentiu na sua delação para cumprir com as determinações da PGR.
MT encontra espaço para um auto elogio a sua carreira jurídico-literária:
Eu, que tenho milhares de livros vendidos de direito constitucional, com mais de 50 anos de serviços na universidade, na advocacia, na procuradoria e nas secretarias de Estado, na presidência da Câmara dos Deputados e agora na Presidência da República, sou vítima de uma campanha implacável com ataques torpes e mentirosos. Que visam a enlamear meu nome e prejudicar a República. O que me deixa indignado é ser vítima de gente tão inescrupulosa.
O sujeito ainda se jacta de que “nenhum programa social foi eliminado ou reduzido” no mesmo dia em que um decreto inviabiliza fiscalização e praticamente libera o trabalho escravo.
Temer é um cadáver ambulante que se arrasta em meio a seus iguais, comprando apoio com o que restou do estado rapinado.
A missiva é uma tentativa patética de mostrar que está vivo e foi feita para se tornar pública.
O que acabou ficando público, mesmo, é seu celular.
Maia liberou o número, que estava num iPhone de Geddel Vieira Lima apreendido pela Polícia Federal. Tudo o que foi alvo daquela apreensão foi disponibilizado no site da Câmara e pode ser acessado por qualquer cidadão. O repórter do Globo bateu um papo rápido com Michel.
Se o cachorro de Temer, Thor, falasse, daria um conselho ao dono: “Finge de morto! Quem sabe a gente se aguenta até 2018”.
Michel virou sabão antes de Thor.