Originalmente publicado por Vermelho
Por Lauriberto Pompeu
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) foi escolhido por seu partido como candidato a prefeito de São Paulo no último sábado (5). A decisão representa uma quebra na tradição, já que a sigla costuma apoiar o candidato do PT na capital paulista.
Orlando disse em entrevista ao Congresso em Foco que a eleição de 2018 representou uma ruptura no sistema político e por isso defende que o PCdoB assuma um maior protagonismo. Nessa linha, além de sua candidatura à prefeitura de São Paulo, ele defende que em 2022 o partido tenha um nome próprio como candidato a presidente e cita o governador Flávio Dino (PCdoB-MA) e a ex-deputada Manuela D’ávila (PCdoB-RS) como opções.
“Eu considero fundamental que o PCdoB tenha candidato a presidente em 2022. Aliás, o ano de centenário do partido, partido que tem uma história importante, se confunde com a luta democrática no Brasil, um partido que durante muito tempo foi impedido de participar de eleições”, afirmou.
“A decisão de ter uma candidatura na maior cidade do Brasil parte de uma leitura que entramos em um novo ciclo da luta política do país. Vivemos um círculo do processo de democratização que se encerrou em 2018 com a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência. Esse novo ciclo exige novos posicionamentos e o PCdoB vai se colocar como uma alternativa nesse momento da política do Brasil”, disse.
Em 2018, o PCdoB chegou a lançar Manuela como pré-candidata, mas recuou para que ela fosse candidata a vice na chapa de Fernando Haddad (PT).
Neste ano há uma pulverização nas candidaturas em São Paulo. Além de Orlando, no campo da esquerda também disputam Jilmar Tatto (PT), Guilherme Boulos (Psol) e Márcio França (PSB).
Orlando Silva foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), ministro dos Esportes, liderou a bancada do PCdoB na Câmara e está em seu segundo mandato como deputado federal.
O cenário nacional vai influenciar o local? Acredita que o apoio de Lula e Bolsonaro terão peso?
Sempre tem, o Bolsonaro é o presidente da República, sua posição influencia o processo eleitoral. O presidente Lula foi o maior presidente da história do Brasil, sua posição certamente influencia uma parte do eleitorado. Mas eu acredito que a busca de alternativas, que já apareceram em 2018, veja, Bolsonaro foi eleito contra qualquer lógica política, Bolsonaro se apresentou como um antisistema, não tinha tempo de televisão, não tinha máquina partidária, mas ele se elegeu por que? Porque havia uma busca de algo diferente do que estava estabelecido. A minha percepção é que esse ciclo ainda está em curso no Brasil, tem gente ainda querendo encontrar um caminho que não seja a polarização tradicional, entre PT e PSDB, PSDB e PT, que dinamizou a política nas últimas décadas, a minha intuição é que ela faz parte do passado, por isso a importância do posicionamento das várias candidaturas, eu não nego a importância que tem esses líderes de influenciar o eleitorado, mas é muito importante discutimos propostas para a cidade e para o país. Isso pode polarizar determinadas posições.
Há uma grande pulverização e vários candidatos no campo da esquerda e também na direita. Teme que isso pode enfraquecer o campo nesta eleição?
A pulverização como você disse também está presente no campo conservador porque essa mudança de ciclo acaba estimulando que as várias correntes políticas procurem se posicionar na disputa. Eu vejo com naturalidade essa pulverização, o que não é natural para mim é movimento de oportunismo político, quando vejo o candidato Márcio França por exemplo, do partido com uma bancada combativa no Congresso Nacional, a bancada do PSB é uma das mais combativas na oposição a Bolsonaro na Câmara e no Senado e de repente o Márcio França tenta de qualquer forma conquistar o apoio do Bolsonaro ou o voto bolsonarista, fazendo um vale tudo para ocupar o espaço da cena política. Isso para mim causa estranheza, mas não causa estranheza, é natural ao meu ver você ter posicionamento, agora se espera dos seus candidatos coerência, considerando a postura de seus partidos, das suas bancadas parlamentares e suas histórias.
O senhor defende que o PCdoB tenha candidato a presidente em 2022?
Eu considero fundamental que o PCdoB tenha candidato a presidente em 2022. Aliás, o ano de centenário do partido, partido que tem uma história importante, se confunde com a luta democrática no Brasil, um partido que durante muito tempo foi impedido de participar de eleições. Agora que temos alternativas, temos Flávio Dino que é um governador extraordinário, temos Manuela D’ávila, que é uma das principais lideranças do Brasil. Não teria explicação para muita gente o PCdoB não ter um candidato a presidente em 2022.
O senhor já foi ministro de Lula e é próximo de Ciro Gomes. Essa disputa interna na oposição a Bolsonaro é prejudicial para a construção de uma alternativa em 2022?
Acredito que precisamos lutar para construir uma alternativa ao bolsonarismo, Bolsonaro representa tudo de ruim que a política pode produzir, velhos métodos, velhas práticas, é um projeto ancorado em mentiras, usa fake news como método, tem uma política anti-povo, com políticas que afetam dramaticamente a vida dos trabalhadores, submete o Brasil interesses internacionais que não os da garantia da soberania do país. Eu considero o governo Bolsonaro um horror e vou trabalhar para que em 2022 a gente tenha uma frente ampla para derrotá-lo, espero que seja com Flávio Dino a frente, Manuela D’ávila a frente porque é muito importante a gente construir um pleno movimento em defesa da democracia.
O PCdoB pode não lançar candidato em prol dessa frente ampla?
Precisamos construir o movimento, o PCdoB deve oferecer seus nomes, colocar como alternativas, a fase atual é de construção, não de imposição de nomes, precisamos fazer um processo de construir uma unidade programática e a partir daí construir nomes que representem bem essa unidade programática.
O PT e o Lula são as grandes forças de oposição?
Eu prefiro não analisar o PT, tenho muitos amigos, muita admiração pelo presidente Lula, mas eu miro para frente, tenho defendido que o PCdoB olhe para a frente, um novo caminho.
Este ano é a primeira eleição sem as coligações para vereador. A pulverização de candidaturas tem como objetivo reforçar os partidos na eleição do legislativo municipal?
Eu não acredito que isso incida. Por exemplo, vou dar o exemplo do estado de São Paulo. Na eleição de 2018 o PSB teve candidato? Teve, Márcio França. O PDT teve candidato? Teve, Marcelo Cândido. O PT teve candidato? Teve, Luiz Marinho. O PSOL teve candidato? Teve. Do campo progressista apenas o PCdoB não teve candidato a governador. Nessa eleição o PDT não tem candidato. A se observar as candidaturas colocadas em 2018 e 2020 não é a mudança da regra eleitoral que faz a diferença, tanto que em São Paulo teremos o mesmo número de candidaturas do nosso campo que tivemos em 2018.
Por que o senhor resolveu se candidatar a prefeito?
Não foi uma decisão pessoal, é uma decisão coletiva que construímos, fizemos um debate interno ano passado, trabalhar quem chega a um melhor nome. Foi discutido o meu nome e o de Nádia Campeão que foi vice-prefeita de São Paulo. A decisão de ter uma candidatura na maior cidade do Brasil parte de uma leitura que entramos em um novo ciclo da luta política do país. Vivemos um círculo do processo de democratização que se encerrou em 2018 com a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência. Esse novo ciclo exige novos posicionamentos e o PCdoB vai se colocar como uma alternativa nesse momento da política do Brasil. Novos atores podem entrar em cena e considero que é muito importante a decisão nossa de nos colocarmos como alternativa. Você não pode ser uma alternativa para uma sociedade se você não disputa a eleição na maior cidade do Brasil, que é a cidade de São Paulo. Já havia uma expectativa enorme da nossa militância, já ensaiamos duas vezes ter uma candidatura e tomamos a decisão de seguir adiante.
Qual o senhor acha que é a prioridade em São Paulo hoje?
São Paulo tem problemas importantes, tem um déficit habitacional muito grande, o problema da moradia aqui é importante. São Paulo, por ser uma cidade com mais de dois milhões de habitantes, núcleo de uma região metropolitana enorme, tem na saúde desafios enormes. Temos que conseguir melhorar a qualidade da educação. Além do transporte, da qualidade, porque hoje São Paulo o emprego está muito longe da moradia, então é um desafio a circulação na cidade. O plano nosso enfrentará essas quatro questões, moradia, qualificação da educação, da saúde e mobilidade urbana. Entretanto nós decidimos elaborar um plano emergencial para emprego e renda porque os efeitos econômicos da covid na cidade de São Paulo são devastadores. Além da repercussão humana, da perda de vida que infelizmente aqui a cidade concentra o maior número de perda de vidas, mas os efeitos econômicos e sociais da covid são muito pesados na cidade. Nossa estratégia, nosso plano é 2021 ser um ano dedicado a geração de emprego e renda. Criar frente de trabalho sobretudo para jovens, o desemprego de jovens é o dobro do desemprego geral da sociedade. Retomar as obras públicas porque a construção civil emprega muita gente. Tem medidas ligadas ao emprego e medidas ligadas à renda, por exemplo, estimular o microcrédito na periferia. Ou mesmo a prefeitura usar sua função reguladora e normatizar mecanismos de economia colaborativa, por exemplo aplicativos de transporte e aplicativos de entrega, exigindo um valor mínimo por emprego de cada trabalhador de aplicativo é uma forma de você estimular a renda maior para esses trabalhadores. Teremos um plano global para cidade e um plano focado para 2021, voltado para a geração de emprego e renda.
Como avalia a atual gestão de Bruno Covas no enfrentamento a pandemia. O que faria de diferente?
É uma nulidade, tem nenhuma proposta estruturante, nenhuma programa estruturado, nada que marque a gestão. A ausência de marcas revela a debilidade do governo e no caso da pandemia, que se preze eu perceber o esforço dele inclusive enfrentando a doença, enfrentando a contaminação da covid, a coragem que ele teve, se você for observar a gestão, foi uma gestão vacilante, hesitante, o tanto que se demorou para se instalar os hospitais de campanha nas áreas mais populosas, onde havia incidência maior sobre a covid. Foi vacilante e hesitante, inventando mentiras ineficazes, colocando em risco a população, colocando rodízio no meio da pandemia, empurrando os trabalhadores para o transporte público sem aumentar a capacidade do transporte público. Um governo hesitante sobre o retorno às aulas, vacilando muito e gerando sinais contraditórios, mesmo no caso do comércio. Então a marca do combate à covid nesse período foi a hesitação, vacilação por parte do poder local.
Fonte: Congresso Em Foco
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