Por Stefani Costa
Rita Maria Matias, deputada pelo Chega, partido de extrema-direita em Portugal, foi alvo de críticas nas redes sociais nesta quarta-feira (26) depois de participar dos insultos ao presidente Lula durante a sessão de boas-vindas no Parlamento no dia 25 de Abril, data que marca a Revolução dos Cravos no país.
Após acusar o presidente do Brasil de “ladrão” e de espalhar a falsa informação de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia sido condenado por corrupção, a deputada foi questionada por internautas a respeito de dois escândalos que envolvem o nome do pai dela (que foi também assessor de André Ventura, líder do Chega e ex-candidato à presidência em Portugal).
Em 2022, Manuel José Cardoso Matias (ex-presidente do Partido Pró-Vida/Cidadania e Democracia Cristã, que se fundiu ao Chega em 2020) se viu obrigado a renunciar ao cargo depois que a Organização Transparência Internacional questionou o partido acerca de sua nomeação, alegando a existência de uma violação da ética da lei, já que o mesmo é pai da deputada Rita Maria Matias.
Na altura, a instituição enviou uma carta ao presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, alegando que a noemação violava “tanto a letra quanto o espírito da norma, além de contrariar a razão e finalidade da lei” que visa “impedir e tornar ilegal a nomeação para órgãos políticos de familiares dos respetivos titulares”, prática caracterizada como nepotismo.
A Transparência Internacional ressaltou ainda que “a dúvida baseia-se no facto de tal ato de nomeação [ser] proibido pelo disposto na alínea b) do n.º 2, conjugado com o n.º 4 do artigo 2 da Lei n.º 78/2019, de 2 de setembro, que estabelece regras transversais às nomeações para os gabinetes de apoio aos titulares de cargos políticos, dirigentes da Administração Pública e gestores públicos”.
Com dez dias de trabalho, André Ventura acabou aceitando o pedido de renúncia de Manuel Matias alegando que essa era a melhor forma de evitar “quaisquer constrangimentos adicionais ao normal funcionamento do grupo parlamentar” mesmo afirmando que estava seguro de que o processo que nomeou Matias como seu assessor político estava em “absoluta legalidade e transparência”.
Outra polêmica que envolve o pai da deputada Rita Matias está ligada a uma suspeita de desvio de verbas da Cooperativa “Pelo Sonho é que Vamos”, Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que era ligada à Câmara Municipal do Seixal, região metropolitana de Lisboa.
Diversas publicações no Twitter foram feitas em caráter de denúncia no intuito de apontar que, enquanto presidente da Cooperativa, Manuel Matias teria desviado 500 mil euros da IPSS, que entrou em falência em 2018 e gerou uma sequência de 5 anos de atrasos no pagamento de salários a cerca de 45 trabalhadores da instituição.
Em uma publicação na mesma rede social na qual sofreu uma série de cobranças, a deputada negou que seu pai tenha desviado dinheiro da instituição, afirmando que os vínculos laborais que ele tinha com a Cooperativa do Seixal “cessaram em 2014 e que, durante o seu mandato, as suas responsabilidades legais foram cumpridas.” Rita reforçou ainda que o trabalho desenvolvido na instituição rendeu ao ex-assessor de André Ventura o título de Comendador da Ordem de Mérito, em Abril de 2015.
Rita Maria Matias também foi acusada de ter plagiado um discurso da atual primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. O texto copiado e lido pela deputada portuguesa no III Congresso do Chega, realizado em maio de 2021 na cidade de Coimbra, saiu de um pronunciamento feito por Meloni no ano de 2019 durante o Congresso Mundial da Família, em Verona, Itália. Na altura, Giorgia era líder do partido de extrema-direita ‘Fratelli d’Italia’.
Chega é punido no Parlamento português após insultos contra Lula
Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República portuguesa, excluiu o partido de extrema-direita das delegações de visitas a parlamentos estrangeiros, após os insultos do Chega durante o discurso de Lula da Silva na sessão de boas-vindas ao Parlamento no dia 25 de Abril.
De acordo com o gabinete de comunicação da Assembleia, o partido de extrema-direita não poderá acompanhar visitas oficiais a outros parlamentos que incluam “contatos com chefes de Estado, chefes de Governo ou ministros dos Negócios Estrangeiros”.
Em nota, Santos Silva considerou ainda que os representantes do Chega demonstraram a incapacidade de garantir a “essas altas entidades e, em geral, as obrigações de respeito e cortesia que há muito caracterizam e distinguem a ação externa” do país.
Bolsonaro e Salvini em Portugal
O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, foram confirmados para uma conferência organizada pelo Chega entre os dias 13 e 14 de maio, em Lisboa. O evento promete reunir diversos líderes e representantes da ultradireita mundial, incluindo uma possível presença do ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
André Ventura, deputado e líder do partido português, publicou um vídeo afirmando que o convite a Bolsonaro, Salvini e muitos outros dirigentes marcará a capital lusitana “como um dos novos centros da direita mais forte da Europa e uma das referências mundiais da luta contra o socialismo”.
Durante uma coletiva de imprensa realizada em fevereiro, Ventura também confirmou os convites à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e a Santiago Abascal, do partido VOX
da Espanha. Até o momento não foram divulgadas informações sobre o local onde ocorrerá tal ‘evento’.