Desagregando valor. Por Fernando Brito

Atualizado em 22 de fevereiro de 2020 às 14:38
Movimentação de contêineres no Porto de Santos (Foto: Divulgação/Codesp)

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

A expansão dos casos de coronavírus na Coreia do Sul – o número de casos dobrou a cada um dos dois últimos dias, ao ponto de a fábrica da Samsung na cidade de Gumi, no sudeste do país, ser a primeira unidade de produção paralisada no país por conta da doença – colocou na sombra a relativa melhoria do surto na China, embora seja difícil falar em melhora se 100 pessoas morrem por dia.

O Estadão, hoje, um mês depois do início do surto – eram 326 casos em 21 de janeiro e 78 mil, ontem – aponta uma perda de valor de mais de R$ 47 bilhões nas empresas brasileiras ligadas ao comércio de commodities, levando em conta o valor das ações.

É muito pouco perto dos outros efeitos que a situação traz, embora muita gente por aqui continue relativizando o problema.

Hoje, o jornal inglês Financial Times diz que o coronavírus pode ser pior do que Wall Street está apostando e registra que o “vôo para a segurança” dos capitais está fazendo despencarem as taxas de juros dos títulos do Tesouro Americano. O mesmo movimento de “safety” está levando a um alta do ouro que ameaça bater recordes históricos.

E isso atinge o Brasil de uma forma mais forte que alguma redução nas exportações, porque tende a reduzir o fluxo de investimento estrangeiros por aqui, sempre a maior fonte de equilíbrio – ou ao menos déficits pequenos – no fluxo cambial total do país.

O déficit nas contas externas, só em janeiro, ficou em quase US$ 12, mais de um quinto do projetado para todo o ano de 2020.

É só o fato de termos, desde o governo Lula, enormes reservas cambiais (US$359,4 bilhões) que nos está, por enquanto, nos salvando de uma grave crise financeira. Mas o fato de serem tão grandes as reservas não quer dizer que perder uma parte delas apenas não vá nos abalar.

A cada dia que passa, a “meta” de 2% e crescimento que Bolsonaro teria estabelecido para Paulo Guedes fica mais distante e só isso põe um tremendo ponto de interrogação no cenário.