Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”
Sergio Moro tinha uma retórica genérica e vazia sobre o que faria como empregado de Bolsonaro, quando assumiu o Ministério da Justiça em janeiro de 2019.
Falava em combater a ‘corrupição’ dos políticos, sempre fazendo biquinho com o acréscimo do ‘i’, e defendia um plano de defesa do cigarro nacional diante da concorrência do contrabando.
Flertava com o projeto do fascismo de ampliar o conceito de excludente de ilicitude, que daria licença em lei para que a polícia matasse ainda mais.
Defendia um pacote de 10 medidas contra os ‘corrupitos’, elaborado com Deltan Dallagnol, das quais ninguém se lembra, nem ao menos de uma delas.
E avalizava publicamente um dos primeiros decretos de Bolsonaro que ampliaram o acesso às armas, sempre com a desculpa de que a ideia não seria sua.
A verdade é que ninguém se lembra de nada que Moro tenha feito dentro do governo. Nem Bolsonaro.
O chefe o mandou embora quando o defenestrou, em reunião de ministros, na frente de todo mundo, por ser incapaz de monitorar inimigos da família Bolsonaro.
Moro deixou o governo em abril de 2020 e saiu atirando. Ficou um ano e quatro meses ao lado do sujeito que venceu a eleição enquanto Lula estava encarcerado pelo seu lavajatismo.
Sua produtividade, como subalterno inconfiável do agora acusado de contrabando de joias, foi quase zero.
Um ano e quatro meses sem nada que possa ser apresentado hoje, nem mesmo como ideia embrionária, com alguma relevância.
Pois Moro é notícia de novo por ter sido vigiado por bandidos do PCC, como revanche por uma medida adotada em fevereiro de 2019, no início da sua gestão como ministro da Justiça.
Mas que medida? E o Brasil fica sabendo então que Moro foi o autor de uma portaria que proibiu visitas íntimas a líderes do PCC e a presidiários de penitenciárias federais de segurança máxima.
O PCC decidiu caçar Moro quatro anos depois e permitiu que o Brasil ficasse sabendo o que o ex-juiz fez no governo: proibiu visitas íntimas.
Moro não caçou bandidos, não conteve quadrilhas de traficantes e de milicianos que agem até hoje, não conseguiu nem mesmo defender o cigarro nacional. Mas proibiu visitas íntimas nas cadeias e por isso agora corria riscos.
Tudo porque não queria que companheiras, namoradas ou amigas de integrantes do PCC os visitassem na prisão.
Moro fracassou como o ministro que teria a missão auxiliar de proteger os Bolsonaros, por não ter entendido direito a tarefa da área familiar.
Nunca soube dizer o que fez depois como empregado de uma empresa americana de consultoria que prestava serviços a grupos cujos dirigentes haviam sido presos pelo próprio Moro.
Fracassou como candidato a candidato a presidente. Mas se elegeu senador pelo Paraná e aí está de novo nas manchetes como perseguido pelo PCC.
Tudo porque impediu os chefes do grupo de terem contato com suas mulheres. A mais importante medida de Moro como ministro foi, na sua essência, uma decisão moralista.
Os planos do PCC contra Moro, descobertos pela Polícia Federal de Lula, não têm relação, como alguns jornais informaram para glamorizar o caso, com a transferência dos chefes da organização para um presídio federal, também há quatro anos.
A represália articulada por causa da transferência e de outras medidas restritivas teria como alvo principal o promotor Lincoln Gakiya.
Ele é quem caçava o PCC com uma sequência de decisões que amordaçavam a organização dentro e fora das cadeias.
Moro apenas bloqueava a entrada de mulheres nas prisões. E por isso está nas capas de jornais de novo.
A PF que Moro desqualificou em 2021, ao dizer que estava contaminada pela estrutura miliciana de Bolsonaro, foi quem o salvou.
Então, Sergio Moro, não dê outro sentido à frase de Lula na entrevista à TV 247, quando o presidente disse que desejava vê-lo fodido por seus próprios desmandos.
A PF de Lula o socorreu. Você poderia ter sido morto por ter proibido os caras do PCC de namorar. Por pouco, por um moralismo raso, você quase se fudeu, Sergio Moro.